Não é que seja saudosista. Mas há vezes em que olhamos para as situações normais, depois de termos vivido inúmeros meses ou anos na anormalidade, que nos parecem estarmos a observar algo errado.
Por exemplo, quem não se espanta quando procura um determinado serviço, seja ele privado, mas sobretudo público, e acaba boquiaberto com a celeridade que vê a ser dada quando atendido?
Ao longo dos anos, muito por força das vicissitudes que vamos vivendo, muitas são as acções que já tinham que desaparecer por conta de se tornarem regras, e quem sabe até legisladas pelos próprios parlamentares.
Quem está na Baixa de Luanda, onde o estacionamento é um autêntico quebra-cabeça nos dias normais de trabalho e nas horas de expediente, já se convenceu de que deve incluir nas suas despesas diárias, semanais ou até mensais um determinado valor para dar aos jovens que fazem dos referidos espaços reservados aos veículos suas ‘coutadas’.
O nosso subconsciente, por incrível que pareça, vai- se munindo para aceitar este como sendo um procedimento normal, embora não o seja, porque muitos destes rapazes não têm sequer qualquer ligação com a administração das referidas localidades e muito me- nos com as empresas ou residências em que se encontram os lugares vagos.
São tantas as áreas. Quem não sabe que, quando se aproxima o início dos anos lectivo, em determinadas zonas – ou áreas em que as principais instituições de ensino estão quase abarrotadas – também se guarda já um pouco do que sobra dos salários, ou até das poupanças de outros negócios, para se garantir que os filhos, sobrinhos e outros parentes não fiquem fora do sistema normal de ensino.
Mas, sabe-se, quando se criam mais escolas, logo, também se diminui a possibilidade de permanência destas anormalidades, muitas das quais há vezes em que parecem consentidas. Ou seja, existirão mesmo alguns indivíduos que as perpetuam, porque, deste modo, conseguem amealhar mais, uma vez que a desorganização organizada também é um expediente milimetricamente traçado.
É curioso que há dias, circulando por uma estrada nacional, parte da qual em reabilitação e a outra que pode ser transitada com a maior normalidade, acabei por sentir saudades daqueles meninos que, com enxadas, baldes e até carros de mão, possuíam as suas unidades ad-hoc que iam tapando os buracos, com pedras ou simplesmente areia, para que os automobilistas pudessem circular sem constrangimento.
Era algo anormal, uma vez que o trabalho que efectuavam era da competência das autoridades governamentais, tanto na construção como na conservação das estradas nacionais e não só. Embora se pudesse aplaudir, mas era mais uma das anormalidades a que nos fomos habituando.
No entanto, acreditamos que, caso as novas vias estejam a ser construídas com a qualidade aceitável, nunca mais os veremos como antes. Mas, se forem como algumas estradas e outras obras que parecem não estar a resistir à chuva que cai por estes dias, logo logo lá estarão os nossos ‘anormais necessários’, por força das necessidades de amealharem alguns trocados, mas também tentando tapar a incapacidade de certos empreiteiros que ganham milhões prejudicando o Estado.