Em alusão aos 21 anos de paz que o país assinalou ontem, comemorados efusivamente em quase todo o território nacional, uma lista com nomes de personalidades anónimas e outras conhecidas mereceu por parte dos serviços de apoio do Presidente da República, João Lourenço, o reconhecimento para que fossem distinguidos.
Entre políticos, oficiais das Forças Armadas Angola- nas, da Polícia Nacional, desportistas, músicos e jornalistas, como da praxe, já se soube que dificilmente haveria algum consenso. Infelizmente, numa terra em que muitos pensam saber de tudo e os outros figuram no grupo do que menos percebem dos fenómenos políticos, sociais e económicos, não tardou para que surgissem em catadupa determinados grupos a sugerirem nomes de A, B ou C como sendo merecedores do reconhecimento atribuído pelo Chefe de Estado em nome do Executivo angolano.
A história de Angola, por mais que muitos discordem, foi construída por gente conhecida e muitas pessoas anónimas, muitas das quais quase que nem se conhece o percurso trilhado. Seja ao nível do campo político, militar, económico, houve vários indivíduos que ao longo destes quase 50 anos de independência e mais de 20 de paz estiveram na retaguarda ou nos campos de combate para que hoje os quase 30 milhões de angolanos e to- dos os demais cidadãos que habitam neste país pudessem circular livremente e poderem viver.
Todavia, há outros nomes, muitos dos quais os vimos ontem a serem condecorados – e outros que o foram anteriormente – que nunca poderão ser dissociados de todo o processo que culminou com os mais de 20 anos de paz. Um destes é José Eduardo dos Santos, uma sumida- de reconhecida quase que unanimemente como sendo o arquitecto da paz, por ter sabido num determinado momento que era preciso cessar o fogo e juntar à mesma mesa os angolanos, sem mediação internacional, para que de uma vez por todas se enterrasse o machado da guerra.
Não me importaria se fosse homenageado todos os anos. Mas o certo é que José Eduardo dos Santos já mereceu quase todas as distinções que o país lhe poderia oferecer. Embora seja quase anormal fazer uma comparação do género, mas ainda hoje muitos se perguntam o que aconteceria se, por exemplo, no campo militar em 2002 a correlação de forças fosse favorável à UNITA, encabeçada por Jonas Savimbi, e se este teria a magnanimidade de poupar os responsáveis das Forças Armadas Angolanas como estes fizeram com os das FALA?
Como disse o Presidente João Lourenço, “nesta data de comemoração e de reflexão, evocamos o nome e a memória do Presidente José Eduardo dos Santos, o Arquiteto da Paz e reconciliação nacional, estadista que soube interpretar a vontade do povo sobre a necessidade do abraço fraterno entre irmãos, do reencontro da grande família angolana”. E acrescentou: “quisemos aproveitar esta importante data para reconhecer os feitos e o patriotismo dos angolanos no geral, aqui representa- dos por civis e militares que se distinguiram na luta pela Independência Nacional, na defesa da Soberania Nacional e na conquista e preservação da paz e reconciliação nacional e que, por esta razão, foram galardoados nesta cerimónia solene com Ordens e Medalhas de diferentes graus e classes”.
Mas, a seu tempo, com certeza, muitos mais filhos desta Angola serão condecorados, facto este que poderá diminuir as críticas ou mesmo as lamúrias de muitos que têm na algibeira as suas listas particulares, acreditando que só as suas escolhas parecem ser as melhores, menos- prezando todo o trabalho que se fez para se encontrar os nomes dos que mereceram a título póstumo e dos ainda vivos que desfilaram, ontem, 4 de Abril, no Hotel Intercontinental, em Luanda.