Quem diria que um dia fosse chegar à casa e a primeira pergunta de um dos rebentos fosse querer saber por que razão se está a escancarar as por- tas do país aos cidadãos de outros países, muitos dos quais não precisam sequer de obter um visto de turismo para o efeito?
Foi o que aconteceu há dias. Creio que o curioso teve como mote a medida adoptada recentemente que isenta cidadãos de cerca de 100 países de obterem um visto de turismo, algum tempo depois de se já ter avançado que os países do G-20, um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e União Europeia, também estariam entre os sortudos.
É crível que muitos terão sido questionados, em casa, nos locais de trabalho, nas universidades e noutros pontos sobre as razões que terão levado o Executivo angolano a tomar tal decisão, escolhido alguns países e preterido outros? Cada um a seu jeito terá dado as suas explicações, sendo que algumas delas terão sido convincentes e outras, provavelmente, exigiriam mais dados para que os curiosos se sentissem ultrapassados.
Houve – ou ainda há- quem busque a falta de reciprocidade de uns para que não constassem da extensa lista apresentada ou até quem visse nalguns esta- dos, entre os escolhidos em África, Europa, América e Ásia, elementos nocivos que pudessem colidir com os nossos.
Para muitos, o facto de que com tais medidas se puder aumentar o número de turistas, assim como interesse destes, entre os quais empresários, investirem em determinadas parcelas do território nacional passa quase que despercebido.
Muito por conta ainda de alguma falta de informação ou até mesmo de programas complementares a nível dos órgãos provinciais e até municipais, alguns angolanos não conseguem divisar a oportunidade que se possa estar a abrir e, erradamente, olham para uma potencial ameaça de quem venha a beneficiar em doses elevadas dos vistos de turismo.
Infelizmente, quando se vende a marca Angola no exterior, o que é exibido não foge muito dos marcos até então já conhecidos e fáceis de se encontrar com recurso ao Google e outros motores de busca na internet. Mas Angola, hoje, é muito mais, descobrindo- se a cada dia que passa outros recantos, uns naturais e outros artificiais, que passarão a entrar na equação para quem nos visite em turismo ou negócios.
Tal como se abre as portas, há também todo o interesse em se fazer de cada cidadão, lá onde estiver, um propagandista e vendedor da marca Angola, da sua província, do seu município, comuna e até bairro. É que longe dos locais tradicionais que se buscam em termos turísticos noutros pontos do globo, hoje até as favelas e os bairros de gente humilde, muitos dos quais narrados em livros, filmes, músicas e não só, também se tornaram palcos capazes de receber um número significante também de turistas.
Por isso, é imperioso que até ao nível local se consiga transmitir aos cidadãos, entre os quais muitos jovens, das razões que fizeram com que se abrissem as portas e o que isso poderá representar até mesmo para a comunidade deles. Fazer de muitos deles guias, porque o Turismo hoje não passará somente pela Ilha de Luanda, Mussulo, Kalandula e outros pontos tradicionais. Angola é muito mais do que isso. São as suas gentes, bualas, kimbos e os seus musseques.