Na quarta-feira vi por alguns instantes o show em homenagem ao Mais-Velho Rui Mingas, falecido na passada quinta- feira, 4, em Lisboa, Portugal, onde se encontrava em tratamento médico. Infelizmente, não pude assistir pessoalmente, à semelhança de outros ‘showistas’, mas foi notório no rosto do homenageado e dos presentes a satisfação pelo reconhecimento.
É bom quando se reconhece os feitos de alguém ainda vivo. O que já não é o caso hoje, pois o estado de saúde do malogrado não foi suficiente para que aguentasse mais tempo ao lado dos seus familiares e de todos aqueles que admiram a sua obra discográfica, benemérita e empreendedora sobretudo a nível do ensino.
Calhou-me, felizmente, ver a parte em que José Kafala entrou na sala habitual do show para cantar o hino nacional da República de Angola. Trata-se de uma obra em cuja feitura Rui Mingas teve as suas impressões digitais, ao lado de um outro Rui, mas que tem como nome próprio Manuel e o sobrenome Monteiro.
Ver os presentes levantados e todos em uníssono cantando o hino, alguns com as mãos sobre os peitos e noutras posições que evidenciavam respeito profundo, creio ter sido um dos pontos mais altos que ele terá vivido ao longo dos seus anos de vida.
Por mais divergências políticas que alguns possam mencionar, o hino nacional — o “Angola Avante” — é uma obra que impõe respeito e digno de reconhecimento da maioria dos angolanos onde quer que estejam. Por exemplo, por estes dias, quando Angola entrar em campo no CAN 2024 de futebol, que amanhã começa, de forma directa ou indirecta terão consigo Rui Mingas e outros integrantes desta obra quase infinita. Mas poderia ser diferente. Nem nós assistimos àquele momento que nos foi proporcionado pelo Yuri Simão e a sua equipa ao cederem gratuita- mente os direitos do espectáculo às principais cadeias de televisão do país.
Para alguns, provavelmente, essa emoção observada poderia ter sido travada. Hoje, poucos quase se lembram do que se passou na então Comissão Constitucional, onde, além da Constituição por si só, também esteve à mesa a proposta de adopção de um novo hino e uma nova bandeira no país. Poucos se lembrarão. Mas a verdade é que se chegou mesmo a aceitar uma proposta de bandeira para o país, muito distante da actual e das cores que hoje nos representam. Era uma coisa feia. Com uma espécie de concha ao meio e tons laranja. Duvido que muitos se pudessem rever naquele símbolo que se tornaria obrigatório. Eu pelo menos não me revi.
E o mesmo se pensava em relação ao hino. Na altura, creio que prevaleceu a ideia de se mudar apenas algumas estrofes no “Angola Avante” para satisfazer os egos dos que olham para este produto como sendo meramente uma representação de um único partido político.
Felizmente, o tempo passou, passou e ainda se foi a tempo de homenagear esta grande figura ao som do mesmo hino que fizeram em nome de Angola e dos angolanos. E é com ele de que se deverão despedir os que lhe acompanharem à sua última morada. Possivelmente entoando, também, em uníssono: “Angola Avante”!!!