Diferente dos anos em que fomos mais novos, hoje quase que não se vê as estórias em quadradinhos como aquelas que durante a nossa infância víamos em quantidade nas tabacarias em Luanda e arredores.
Quem leu as estórias da Heidi, as piadas engraçadas do Tio Patinhas, a ausência de banhos do Cebolinha – sempre chamuscado pela Mónica e a Magali – ou as aventuras de Yakari tem a mínima noção da importância que aprender a ler proporcionou nos primeiros anos das nossas vidas.
Já naquela altura, infelizmente, houve gente mais nova como nós que não podia fazer o mes- mo, porque não tiveram a possibilidade de estar na escola, nem ter aprendido a ler e a escrever.
Na infância, adolescência e na juventude, infelizmente, fomos acompanhados de casos de amigos, parentes e até conhecidos que estive- ram longe do ambiente escolar, o que não lhes permitiu galgar mais palcos na vida, porque o analfabetismo lhes impediu de puderem sonhar muito mais.
Nos últimos dias, sempre tive a percepção de que existissem poucas pessoas que ainda estivessem na condição de analfabetos. Afinal, à medida que o tempo passa, é expectável que também se diminuam cada vez mais as preocupações e se melhore os índices, sobretudo aqueles em que não nos poderemos orgulhar caso persistam.
E ontem, no dia consagrado à luta contra o anal- fabetismo, nos apercebemos de que estamos com um índice de 25 por cento da população analfabeta, ou seja, indivíduos que não sabem ler nem escrever, segundo informações avançadas por um alto responsável do Estado.
Por mais que se diga que os números tenham reduzido largamente durante anos, os índices actuais continuam, sim, a ser preocupantes. Porque, como se pode esperar, havendo ainda muitas pessoas que não saibam ler nem escrever, não se pode sequer almejar altos voos em termos de crescimento e desenvolvimento.
Quando se é mais novo, há quem até julgue pouco preocupante não ler nem escrever convenientemente. O tempo encarrega-se depois de demonstrar que há um mundo à parte quando se não consegue entender as letras, palavras e aquilo que elas pretendem transmitir.
Actualmente, pelas cifras, há ainda milhares de angolanos nesta condição, que deveriam ser parte dos objectivos não só do Estado, como também de muitas organizações não-governamentais mais viradas para as causas sociais.
Já no passado, quando se fosse obter o Bilhete de Identidade, uma das marcas que criava mossa a muitos indivíduos era o carimbo ‘Não sabe assinar’. E hoje, apesar do tempo, deve ser ainda mais constrangedor ter a respectiva frase es- tampada em alguns documentos.