Tenho por Benguela uma paixão especial. Não sei bem porque, mas desde os primeiros momentos em que lá fui nunca mais me desliguei dela.
Sempre que posso, regresso. Pelos bons amigos, que são vários a cada dia que passa, os colegas e até mesmo familiares que se vão espalhando num ritmo antes imaginável.
E nestas idas e vindas, um dos momentos mais dramáticos foi quando visitei os populares da chamada área dos Cabrais, uma localidade que alberga as vítimas das maiores enxurradas que já se abateu sobre o Lobito, ceifando dezenas de vidas, enlutando o país.
Quando lá fomos pela primeira vez não nos contivemos. Era enorme a tristeza de quem havia perdido os filhos, dos cidadãos que perderam as casas e ainda a desilusão de quem já não tinha nada e esperava que as autoridades lhes dessem o mínimo para continuar a sonhar.
Quem passasse pelos Cabrais e olhasse para as bases, as tendas e as crianças julgava estar aí perdida a esperança de quem se pudesse um dia reerguer.
Era assim que víamos. Era assim que muitos também viam quando olhasse para aquele emaranhado de esqueletos de obras que quase não tinham um fim.
Voltei a passar pelos Cabrais há pouco tempo. Olhei para as casas coloridas lá distante e vi renascer, como se calhar os cidadãos que aguentaram durante muitos anos por dias melhores, a esperança de continuarem a viver como sempre desejaram.
Li, em tempos, numa livro de marketing que as promessas fazem parte da política, sendo elas cumpridas ou não.
É o que muitas vezes fazem os políticos, alguns deles até sem escrúpulos. Mas o sentimento por quem cumpre é sempre melhor por ir ao encontro de quem um dia confiou neles.
Aquelas casas coloridas nos Cabrais não saíram da memória durante algum tempo. São a representação da concretização do que centenas de famílias que tinham sido afectadas pelas chuvas há algum tempo não poderão mais passar, porque houve da parte do Executivo uma solução.
Existirão pelo país outros milhares de cidadãos que habitam em zonas que nos próximos tempos serão assoladas pelas chuvas que agora vão começar.
Muitas delas viverão privações várias, poderão ter a sorte dos moradores dos Cabrais e outras não, mas é preciso que se minimize os estragos que estão por vir. Enquanto ainda é tempo.