Era sobre o direito à vida que os representantes da UNITA no Cuanza-Norte se pretendiam manifestar, conforme relatos que vão sendo difundidos pela própria organização política, assim como outros partidários seus filiados à coligação informal Frente Patriótica Unida (FPU), mas que acabou por se desencadear num desentendimento em que alegam ter havido detenções, incluindo de um parlamentar: Francisco Falua.
Sabendo-se que, como escrevemos na última crónica, o caso do afastamento do deputado acusado de exercer actividade de táxi com a viatura protocolar da Assembleia Nacional tenha criado mossa ao referido partido, o que, em princípio, pode vir a comprometer as aspirações locais nas eleições de 2027, não há dúvidas de que os seus estrategas estejam em campo para se poder limpar a má imagem deixada por Alberto José Catenda.
Sem se pôr em causa os reais motivos da manifestação pretendida pelo secretário provincial da UNITA no Cuanza-Norte, Francisco Falua, que tinha como pano de fundo um esclarecimento sobre os assassinatos que vão ocorrendo nas lavras, tendo vitimado mais de 10 anciãs, a actividade em termos políticos viria reforçar a imagem deste partido, assim como demonstrar o seu interesse pelos cidadãos, independentemente da sua posição económica e social.
É, na verdade, um pregão que o próprio partido vai vendendo há anos no sentido de seduzir os angolanos para que cheguem ao poder. Porém, nada diferente do que os seus responsáveis do Governo Provincial do Cuanza-Norte não pudessem suportar, com cartazes ou não, para evitar o aproveitamento político que o maior partido da oposição soube tirar na sequência do desentendimento que as autoridades dizem ter existido para que se retirassem os organizadores da manifestação para um local seguro.
Não foi em vão que, um dia depois, se tenha feito deslocar ao Cuanza-Norte uma forte delegação parlamentar no intuito de conferir ainda mais uma maior abrangência ao processo, com estes a percorrerem algumas das artérias da capital, incluindo em locais em que legalmente se é ilegal manifestar-se caso não se respeitem as distâncias regulamentadas.
Ainda bem que o governador João Diogo Gaspar, cuja acção governativa tem merecido elogios até mesmo da própria UNITA, tenha recebido a delegação deste partido. Curiosamente, o secretário provincial dos ‘maninhos’, Francisco Falua, referido como tendo sido detido, é um destes entusiastas cuja acção do novo homem forte do Cuanza-Norte tem convencido.
Não tivesse ocorrido a alegada detenção, manter-seia tudo na mesma. Apenas pelas boas razões se evocaria a província que, nos últimos meses, vem conhecendo uma movimentação em sentido positivo de empresários, diplomatas, visitantes, turistas e o retorno de alguns filhos da terra.
Mas, para muitos, o incidente poderá servir ainda para outros argumentos políticos, não obstante o facto de o próprio governador, no encontro com a delegação da UNITA, ter instado até o próprio deputado Francisco Falua “a apresentar as provas documentais da sua alegada detenção no Comando Provincial do Cuanza-Norte, mas o mesmo reconheceu não estar em posse de qualquer documento que confirme a privação da sua liberdade”, conforme informações do próprio site do Governo Provincial, publicado ontem, realçando que ‘não fazia qualquer sentido os relatos de detenção e maus tratos dos deputados, quando estes permaneceram com todos os seus pertences, incluindo telemóveis que usaram para captar e publicar as imagens que viralizaram nas redes sociais’.