Quem anda pelo trânsito nas grandes cidades do país depara-se quase sempre com um daqueles garotos conduzindo uma motorizada, daquelas vulgarmente chamadas de kupapata, com duas rodas, e as famosas kalelwias de três.
Hoje, por incrível que pareça, embora ainda alinhados numa certa informalidade, estes jovens acabaram por constituir uma classe imprescindível para a locomoção dos cidadãos de vários estratos.
É com eles que se chega aos locais de trabalho, escolas, centros de saúde, campo, ou seja, onde for necessário, há sempre um que poderá servir.
Embora se aponte o dedo de muitos deles em acções banditescas, razão pela qual acabam por ser severamente escrutinados pela Polícia Nacional, ao ouvir as estórias de vida destes jovens, acaba- se por aprender sempre muitas coisas que poderiam até servir de exemplo para gente mais graúda, alguns dos quais nascidos em berço de ouro.
Oriundos maioritariamente do interior do país, é considerável o número de mototaxistas que viu nas grandes cidades a oportunidade para poderem melhorar a vida dos seus parentes deixados nas aldeias mais longínquas do país.
É para lá que enviam todos os ganhos provenientes dos milhares de quilómetros percorridos durante o ano com passageiros às costas.
Quando se conversa com um destes jovens, particularmente aqueles que seguem caminhos melhores, tem-se a impressão do amor que nutrem pelo local em que nasceram. Construindo casas, comprando animais para a criação ou terras para a agricultura.
Permitisse Deus que estes jovens, humildes e batalhadores, tivessem acesso aos largos milhões que muitos exibem ou gastam em actividades fúteis, certamente que muitos se destacariam noutras áreas, constituindo-se exemplos para milhares de angolanos.
Por estes dias, em que se fala de uma ‘mamata’ de 7 mil milhões de kwanzas na Administração Geral Tributária, perpetrada por jovens quadros da instituição, muitos se perguntam sobre os destinos que estes terão dado aos montantes.
Do lado do SIC, que efectuou a detenção dos funcionários e seus comparsas, surgiu a informação de que foram encontrados mais de 300 mil dólares, 60 milhões de kwanzas e alguns rands engavetados.
Conhecendo-se os vícios de uma juventude angolana endiabrada, não espanta que alguns tenham enviado parte – ou a maioria – do que foram acumulando ilicitamente para o exterior, onde tencionavam posteriormente viver uma vida principesca.
Prevendo-se que os acusados venham a ser condenados por terem desviado fundos públicos, provenientes dos impostos, acredita-se que passem uns anitos enclausurados. Tempo suficiente para que aqui fora possamos ver progredir alguns jovens mototaxistas e outros que, grão-a-grão, honestamente, vão concretizando os seus sonhos e dos seus familiares em solo angolano, mesmo sem grandes luxos.