Um dos momentos marcantes na China foi conhecer de perto uma das empresas que fabricam muitos dos autocarros utilizados pelas concessionárias de transporte públicos.
Vivíamos os anos dourados, aqueles em que a cooperação entre os dois países estava na moda e Angola transformada naquilo que José Eduardo dos Santos apelidara de ‘um verdadeiro canteiro de obras’.
O boom do petróleo e o mercado favoreciam a entrada de vários players. Entre estes, além das empresas que surgiram por meio dos acordos entre os estados chineses e angolanos, existiam, igualmente, outros empresários que não queriam perder a corrida pelas oportunidades que o nosso país ainda oferece.
A dado momento, num encontro formal, após o fim da visita à região de Xianmen, na província chinesa de Fujian, um dos responsáveis da construtora de automóveis virou-se e atirou sem pestanejar: ‘ abram, por favor, o vosso país. Acredito que vocês nem sequer imaginam as potencialidades do país que têm’.
Atónico, depois de ter passado por um exercício semelhante dias antes, com um outro responsável chinês que conhecia perfeitamente o Kilamba, melhor do que muitos de nós, indaguei-me sobre o que ouvira e quais seriam as reais pretensões do forasteiro que nos queria dar uma lição sobre Angola? Na verdade, enquanto muitos de nós nos sentíamos assustados com a quantidade de operários chineses e de outros países que circulavam pelo país adentro, um outro grupo pretendia, igualmente, penetrar para visitar, explorar possibilidades de investimento e com isso fazer negócios.
Mas, para quem estava na China, por exemplo, como o fabricante de automóvel narrou, não era uma tarefa fácil, razão pela qual realçou que não conseguia compreender as enchentes que se observavam na missão diplomática de Angola neste país asiático. Para muitos turistas e investidores, Angola figurava entre os países fechados.
Aqueles cujas burocracias migratórias cresciam a cada dia que passa nos consulados e embaixadas, estendendo-se até ao seu principal aeroporto internacional, onde alguns turistas e investidores eram obrigados a permanecer horas para um expediente que sempre poderia ser mais rápido.
E ontem, apesar dos receios iniciais, Angola abriuse, como nunca antes se tinha observado, ao mundo, permitindo que cidadãos de cerca de 100 países em África, Ásia, América, Europa e Oceânia possam entrar no seu território sem o habitual visto de turismo. E os que não estão isentos poderão fazêlo com moldes simplificados, contrários aos que se verificavam.
A promoção do país, o desenvolvimento económico e o incremento do turismo exige sacrifícios, o que faz com que alguns angolanos se sintam receosos.
Uns até exigem recripocidade de tratamento, esquecendo que para muitos deles nós seremos apenas os doentes e eles os médicos, que nos poderão fornecer o capital, know-how e equipamentos para os desafios que temos pela frente.
Foi assim que outros também agiram. O resto competirá aos órgãos de defesa e segurança para contrapor e refrear as ameaças que possam surgir, porque fechados nunca seríamos um mercado atractivo para muitos.