Durante largos anos a fio, envergar uma farda sempre foi um dos momentos mais altos na vida de muitos cidadãos. Desde o momento em que muitos juraram a bandeira e outros quando viram um dos seus trajados, comprometidos com a defesa dos interesses mais supremos da pátria.
Nas décadas de 80 e 90, eram visíveis, à distância, o respeito que a farda proporcionava a quem a usasse. Serão poucas as lembranças de quem se terá atrevido, no mínimo, segurar os colarinhos de um soldado do então Serviço de Tropas, ou algum desmiolado que tentasse confrontar os efectivos da TGFAA, UPD e até recentemente os famosos anti-motim.
No ano passado e neste, por exemplo, vários vídeos circularam de agentes, e até mesmo oficiais, a serem agredidos por civis e outros por colegas, como foi o caso que ocorreu no Benfica, onde os colegas não se coibiram sequer em arrastar, como se de um delinquente se pudesse tratar, um alto quadro da corporação.
Por mais que soldados, agentes e oficiais usem o velho chavão de outrora ‘sabes quem sou’, em que se questionava os mais atrevidos, é provável que alguns nem sequer chegam a ser levados a sério. Quem diria…
Mudaram-se os tempos e com elas as vontades. Não se sabe se, por falta de preparação dos novos efectivos militares ou paramilitares, muitos dos quais vêem nas Forças Armadas e na Polícia Nacional os únicos poisos para se obter um ‘emprego’, vai faltando uma certa afirmação que resvala quase sempre para o desrespeito de quem está bem ou mal trajado.
Por incrível que pareça, hoje surgem em sites de venda online indivíduos que dizem estar a comer- cializar uniformes que eram supostos serem encontrados unicamente nas unidades militares ou policiais.
Quando escutei ontem o Presidente da República, João Lourenço, dizer ao novo ministro do Interior, Manuel Homem, para que não se preocupasse com a farda, pus-me a pensar sobre o alcance da recomendação. Na verdade, a inteligência suplanta sim o que se enverga, talvez por isso hoje muitos agentes da Polícia e até mesmo de Forças Armadas Angolanas procuram aprofundar ainda mais conhecimento para estarem à altura dos desafios que lhes têm sido confiados, para além do facto de usarem uniformes.
Mas, ainda assim, se o ministro deve agir em conformidade para travar aqueles graduados que se sentem donos da corporação, chegando mesmo a exercer influência em áreas-chave, espera-se também que Manuel Homem ajude a devolver aos efectivos o respeito que sempre houve em relação à Polícia Nacional.
É imperioso que se devolva o sentimento de respeito que noutras alturas a população sempre teve da Polícia Nacional e dos seus abnegados efectivos, que, correndo vários riscos, procuram proporcionar segurança a todos os cidadãos de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste.