Visitei, há poucas semanas, o município do Lôvua. Antes da Divisão Político-Administrativa, esta área da província da Lunda-Norte era o último município que havia ascendido esta categoria depois de largos anos enquanto comuna do Chitato, o município capital.
Apesar das potencialidades que vai demonstrando nos últimos tempos, sobretudo na área agrícola, o Lôvua tornou-se notícia com alguma insistência, por conta do elevado número de refugiados que recebeu por causa da última vaga de migração, ocorrida devi- do à instabilidade político-militar na República Democrática do Congo.
Não sei quantos refugiados existirão neste momento num dos centros existentes na região, situado a poucos quilómetros da fronteira entre Angola e a RDC, mas o certo é que lá estão e são um dos exemplos das consequências no país vizinho.
Com alguma ironia, infelizmente, que preferia identificar como desconhecimento, surgem entre nós algumas vozes questionando as razões que levam com que Angola e a sua liderança se sintam motivados em procurar uma solução para a paz na República Democrática do Congo? Desconhecendo-se as razões de alguns, a verdade é que parecem desconhecer a posição dos dois países e a necessidade de existir entre estes um verdadeiro clima que permita aos seus povos viverem bem.
Angola e a República Democrática do Congo partilham uma longa fronteira, o que faz com que a instabilidade num deles signifique claramente problema noutro. Aliás, o caso identificado inicialmente neste texto sobre os refugiados no Lôvua é apenas um dos exemplos ainda patentes das consequências que a convulsão no país vizinho nos pode causar.
Ao longo das últimas décadas, por conta das instabilidades em Angola, que encontrou a paz em 2002, e as guerras na RDC, quase sem fim à vista, nota- se que um conflito em cada um deles acaba por influenciar negativamente nos aspectos socioeconómicos de outro.
Por isso, por mais que se diga o contrário, há todo o interesse de um dos vizinhos, por causa das externalidades, tanto positivas como negativas, fazer de tudo para que o outro encontre um ambiente favorável.
Longe de qualquer busca de protagonismo que se queira pintar, o exercício feito pelo Presidente João Lourenço na busca imediata de uma solução pacífica para o conflito ainda latente na República Democrática do Congo, sobretudo, assenta fundamentalmente na premissa de que um bom ambiente político no país vizinho signifique também a criação de condições para que Angola não venha a sofrer situações inesperadas provenientes do outro lado.
Angola e a RDC estão condenadas a procurar soluções que permitam às suas populações terem uma vida duradoira e sã. Algo que só se consegue caso se invista em condições que não passem pelo cano das armas, como um incremento nas relações socioeconómicas, até porque há ao lado um dos maiores mercados para os investidores angolanos.
E para tal, somos nós, os angolanos, um dos mais interessados na busca deste ambiente salutar, contrariando os demais agitadores da região que nem sequer partilham metade da fronteira que possuímos em comum.