Quando a primeira informação veio a público, foram várias as interpretações feitas sobre a medida a ser tomada pelo Instituto de Serviço de Veterinária do Ministério da Agricultura quanto à proibição de importação de partes de galinhas e miudezas de vaca e porcos que até então eram comercializados em muitas partes do país.
No fim-de-semana, ouvindo um programa ra- diofónico, não contive o sorriso quando o entrevistado dizia que acreditava que algumas partes das galinhas ou galos vendidos nos armazéns na capital eram ‘jardados’, ou seja, possuíam um tamanho só alcançável recorrendo a processos tecnológicos que hoje abundam no sector agrícola.
A verdade agora é que, embora não exista um comunicado que diga o contrário, já não assistiremos à entrada no país de muitas partes de frango e vacas – ou até búfalo – que víamos. Era comum observar cidadãs adquirirem estes produtos, alguns por gosto mesmo e outros por se tratar unicamente de bens que os seus proventos conse- guem alcançar. Infelizmente.
Tal como se previa, haverá entre os angolanos os que não concordam com as medidas tomadas, porque não se acredita que o país tenha, neste momento, capacidade para atender à demanda. Aliás, a própria associação de avicultores não tem sequer noção de quanto o sector produz durante o ano por forma a se dar alento aos consumidores.
Do lado dos produtores, como não poderia deixar de ser, a medida foi acolhida com duas mãos. Acredita-se que mais apoios por parte do Estado serão dados e que, finalmente, o negócio poderá passar por mãos angolanas ou empresários radicados no país, o que se traduziria não só no aumento da produção, mas também no de mão de obra e, consequentemente, a melhoria de vida dos cidadãos nacionais.
Com o travão imposto – ou que se acredita ter sido já uma realidade – importa saber os timings dentro dos quais o país poderá atender verdadeiramente à demanda, o que desde já poderá justificar que se partisse de antemão para a proibição. E que esta produção possa, num curto espaço de tempo, permitir que até os mais necessitados, ou seja, aqueles que auferem um salário mínimo, consigam ter acesso a uma caixa de partes de frango ou vísceras de boi para se poderem alimentar.
Mais do que uma necessidade alimentar, abre-se agora mais uma oportunidade para aqueles que se envolverem no sector, uma vez que a procura nos próximos tempos será maior. Só que quem quiser fazê-lo terá que o ser a partir das condições que o país dispõe neste momento para a criação de aves e seus derivados.
Não nos espantemos se, à semelhança de muitos países do mundo, não observarmos nos próximos tempos o surgimento de pessoas bem-sucedidas a partir desta janela que se abre. De forma dolorosa para muitos, mas necessária para outros e para o país, onde alguns acreditavam que a comercialização de determinadas partes do frango chegava mesmo a ferir a dignidade das pessoas.