Não sei por que carga de água ontem acordei pensando em Waldecy Cardoso, o cantor gospel brasileiro cuja música ‘Vai dar tudo certo’ apresenta logo no início a frase ‘se a gente colocar a nossa fé em acção, pode dar tudo certo’. Desde sempre me assumi como um balzaquiano, um pessimista de primeira, embora esperançoso de que bons momentos acabem sempre por vir depois das enormes tempestades por que passamos na vida, no país e noutras tarefas em que nos envolvemos.
O optimismo não nasce por conta das previsões do Fundo Monetário Internacional dando conta que o país poderá crescer cerca de 3 por cento no próximo ano. Não. Hoje prefiro olhar diferente por conta do enorme pessimista que se vai instalando na nossa sociedade, alicerçado pelo espírito de bota abaixo que muitos espalham, incluindo indivíduos de quem se esperava, por exemplo, uma posição mais coerente tendo em conta os desafios em que esta- mos mergulhados.
Sempre que há um projecto novo, uma iniciativa que visa contribuir para o engrandecimento do país, surge ao mesmo tempo círculos que procuram desacreditar como se o desenvolvimento não fosse uma tarefa de todos.
Por estes dias, aumentam as informações em torno do novo aeroporto Dr. António Agostinho Neto, no município de Icolo e Bengo, uma super infra-estrutura em que foram alocados vários milhões de dólares de que se procura agora tirar o máximo proveito. Como era de esperar, já há quem pense o contrário sobre o projecto e várias teses vão sendo levantadas. Esquecem-se muitos deles que, à semelhança dos estudos que vão fazendo, outros também o fazem admitindo boas projecções em relação ao potencial que a infra-estrutura possui.
Para muitos, ser um verdadeiro angolano nos dias de hoje passa por criticar cada vez mais, não admitindo sequer qualquer hipótese de que as acções que vão sendo executadas tenham qualquer efeito. É por isso que, quando se diz que mais um hospital está em construção, logo surgem os que dizem que não vai dar em nada. Há mais uma estrada, então não se assustem que amanhã a situação voltará à normalidade, assim como, se se lançar um concurso público, também já se sabe quem serão os que vão ocupar os lugares.
O que nos esquecemos, por exemplo, é que quem trabalha no hospital e, às vezes, se recusa de atender um paciente não é a ministra ou o secretário de Estado, mas um cidadão normal cujo parente pode passar pelo mesmo num outro estabelecimento hospitalar.
É o mesmo em relação ao estudante na escola ou, pior, ao jovem que trava o processo de evolução de outrem porque também espera que lhe paguem uma gasosa para que alguém tenha acesso a um posto de trabalho.
Mais do que imputar aos dirigentes todas as responsabilidades ou profetizar o fracasso de qualquer empreitada, o ideal seria perceber que muito do que acontece de errado é, também e sobretudo, culpa nossa. Que não agimos de forma correcta, assim como aqueles que criticamos todos os dias para que dê tudo certo.