Angola regressou nos últimos dias à China. Apesar do cepticismo de muitos sectores políticos, económicos e sociais, trata-se de um mercado em que anteriormente já se esteve, mesmo com a relutância de algumas entidades que viam com outros olhos a escolha feita. É preciso recuar no tempo. Quando se deu o fim do conflito angolano, em Fevereiro de 2002, depois da morte de Jonas Savimbi, nas matas do Lucusse, no Moxico, surgiu a necessidade imperiosa de se reconstruir o país. Aliás, não poderia ser diferente. Angola viveu umas das guerras civis mais prolongadas de África, num palco onde convergiram quase todas as potências.
Antes mesmo do fim do conflito, que ditou os acordos de 4 de Abril, havia a vã ilusão transmitida pelo Ocidente de que o país fosse beneficiar de uma conferência de doadores. Quem viveu aquela fase entusiástica em que as agências das Nações Unidas e outras organizações não-governamentais proliferavam que nem cogumelos tinha quase a certeza de que tudo o que se dizia – ou se escrevia – pudesse mesmo acontecer. Diz-se que terá sido por conta do posicionamento das autoridades governamentais.
Os constantes anúncios de tráfico de influência, corrupção e desvio de verbas supostamente públicas terão contribuído para que as nações do Ocidente vissem com outros olhos Angola, esperando que se estendesse a mão somente quando a nível do ranking o posicionamento fosse outro. É o que se dizia. É o que se lia, por exemplo. Depois do afastamento ocidental, assim como os condicionalis- mos apresentados pelos chamados países do primeiro mundo, ou seja, ocidentais, Angola optou pela China. E estes, prontamente, atenderam aos pedidos do Executivo angolano, pese embora os créditos tivessem sido anexados aos recursos naturais, mormente o petróleo, conforme se pode apurar ainda hoje.
Sem muitos condicionalismos, as autoridades chinesas foram as que no momento em que mais se precisava estenderam as mãos às autoridades angolanas. Emprestaram, na altura, largos milhares de milhões de dólares para o início do processo de reconstrução nacional. Não há dúvidas de que os montantes dados por empréstimo poderiam dar uma outra imagem ao país e ter proporcionado uma outra vantagem a nível da circulação de pessoas e bens, construção de infra- estruturas, educação e saúde. Infelizmente, não foi o que aconteceu.
Além das obras com qualidade praticamente duvidosa, aguçaram-se as desconfianças quanto à gestão dos valores entregues, o que se pode confirmar com os casos hoje em tribunal envolvendo figuras que estiveram ligadas aos negócios. Não fosse, se calhar, a forma como se geriu, talvez hoje o dinheiro chinês não significasse para muitos o caso que se quer pintar. Angola, contrariamente ao que se pinta, não foi o único país do mundo que virou a atenção ao oriente quando foi necessário.
E não se trata só de uma suposta febre africana, porque exemplos vários existem de países que só conseguiram recuperar graças ao abraço chinês. Que o diga o povo português e a sua economia durante os tempos da Troika. Por isso, as vantagens alcançadas durante a visita do Presidente João Lourenço, à China, só podem ser aplaudidas. Poupar entre 150 a 200 milhões de dólares em pagamentos é algo alcançável por poucos. Nem mesmo os aprendizes de feiticeiros que dizem ter soluções para tudo.