Três notas introdutórias inauguram a nossa comunicação. A primeira, marcada pelo trabalho de campo efectuado pela Governadora do Cunene, Gerdina Didalelwa, no sentido de dar respostas a situações que afligem os citadinos.
A segunda, incide-se à visita do grupo de deputados residentes no Cunene, Lúcia Yoleni Sincopela, Ireno Nambalo, no âmbito das suas responsabilidades parlamentares, por terem constatado, neste dia 10 de março de 2025, o nível de execução da barragem do Ndúe no município do Cuvelei.
A terceira, funda-se nas comemorações de mais um ano de existência do Movimento Cultural, que neste dia 12 de março, celebrou nove anos de associativismo contributivo, cívico, patriótico, cultural, académico e filantrópico sob os desígnios dos seus nobres objectivos.
Agora, sentimo-nos em condições de percorrer sobre o propósito da nossa comunicação que se inicia com uma retórica, como lidar com um discurso literário que rasoliza o imaginário cultural e antropológico de um povo?
A nossa retórica é vinculativa à extensão da imaterialidade e da materialidade dos eixos que esqueletizam a cultura como veículo de transformação social, canal de agregação de valores, vector de progresso e consolidação da educação transformadora.
Hoje, nos dias que correm, há uma guisa de reflexões sobre a funcionalidade do discurso literário, dispositivo na construção da identidade cultural, tendo em conta a nossa realidade, o papel da comunicação social como agente significativo, o que se produz hoje como cultura, a postura dos escritores diante dos problemas da sua época.
Outrossim, embora não seja o cerne da nossa questão, entendemos que desconstrução da mitificação da inferioridade literária é de suma importância para uma verdadeira discussão sobre o impacto do discurso literário numa sociedade como nossa em que se eleva o mercantilismo como modo de vida e de aceitação social.
Entendemos por discurso literário, na perspectiva da literatura angolana, como sendo o conjunto de textos que, na maior parte das vezes, partem da oralidade para escrita em que a dimensão revolucionária, pedagógica, moral, educacional, cósmica das comunidades marcam a sintaxe e o léxico dos diferentes discursos literários.
Segundo Daí que, sublinha Cornélio Caley “a génese da literatura angolana deverá ser encontrada na narrativa oral das fábulas, anedotas, provérbios e outros relatos desenvolvidos através dos tempos de ondjango(…) Por outras palavras, deverá ser encontrada na oralidade que traduz todo um conjunto do sentir e pulsar do povo angolano em todos os momentos da vida” (2011,p.26) Por ora, nesta comunicação, não faremos recurso, por enquanto, ao desdobramento dos conceitos que perfazem a razão do presente desafio conteudístico.
Aferimos que, a produção do discurso literário na construção da identidade cultural terá de prezar pela estética, obviamente para que seja um discurso literário, pela moral e pela ética para que agregue valores humanos nos variados estágios do homem enquanto ente social e cultural.
Assim sendo, entendemos que a produção do discurso literário seja a cosmovisão dos diferentes agentes da instituição literatura.
A imitação por se configurar num dos pilares dos distintos processos de aprendizagem, de inserção e convívio social, por exemplo, implica nos mecanismos de socialização e de aceitação cultural.
Por isso, todo discurso literário, por exemplo, infanto-juvenil que alimenta estereótipos, que fomenta a desconstrução identitária, que pregue o mito da superioridade cultural ou rácica cava substancialmente fossos imagináveis no inconsciente das diferentes esteiras na descoberta, na formação e na construção da personalidade, por exemplo, das crianças/adolescentes.
No entanto, Luís Kandjimbo “Do ponto de vista empírico poderia considerar a literatura angolana como o conjunto de obras de escritores angolanos que resultam do recurso as técnicas da ficção narrativa, do verso, da crítica e do ensaio” (2011 p.54) O discurso literário por ser também a representação simbólica e imaginária das diferentes culturas que compõem o mosaico etnocultural angolano comporta-se como ferramenta de inclusão ou de anulação.
Assim, que todo discurso literário seja uma construção, mesmo que se assente em rupturas, quer nas estruturas, quer na construção semântica, quer na produção filosófica.
Por último, abrimos aspas, para saudar mais uma vez a entrega, a dedicação e o elevado patriotismo de todos os membros do MCC que desde muito cedo comprometeram-se com as causas mais humanas e sublimes do associativismo cultural.
Por: Hamilton Artes