De nada valem os diplomas, se eles não são capazes de fornecer conhecimentos e técnicas necessárias para nos munir de capacidades para resolver problemas básicos e fundamentais de uma sociedade e do próprio indivíduo.
De nada vale estudarmos nas melhores universidades do mundo, se quando regressamos ao nosso quimbo, aldeia ou buala, não somos capazes de interpretar os fenómenos da sociedade, compreendê-los e encontrar soluções locais para os problemas globais; se não somos capazes de influenciar positivamente o nosso cantinho.
De nada valem os títulos doutor, engenheiro, Ph.D, mestre, licenciado, se apenas decoramos os conteúdos dos livros europeus, americanos, e não conseguimos aplicar, com as devidas adaptações, o conhecimento adquirido à realidade local, para a resolução dos problemas da comunidade.
De nada valem os fatos e as gravatas das marcas mais caras da grife europeia ou americana, se eles não nos proporcionam soluções para os problemas comuns, que afectam a todos nós.
De nada valem as longas reuniões e encontros com nomes bonitos e estrangeiros: meetings, workshops, webnars, lives, briefings, etc., se o seu resultado na vida das pessoas é zero sobre zero, aliás, só produzem gastos em coffee breaks recheados. De nada valem os títulos se nada criam, nada inventam, nada produzem, nada escrevem, nada sai das suas cabeças.
O país tem formado milhares de pessoas anualmente, em todos os níveis e graduações, aumentou consideravelmente o número de universidades, tanto públicas quanto privadas; sem falar nos milhares de angolanos que se formam no exterior (alguns, privilegiados, nos melhores centros de ensino e universidades do planeta), mas que na vida prática, muitos ou a maioria, quase nada conseguem contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sua comunidade. Bem-falantes, bem-vestidos, perfumados, mas efectivamente pouco agregam à sociedade.
Poucos frutificam nas diversas áreas do saber. Muito parlapiê, mas pouca fruta sai do pomar, muito charme e vaidade, mas pouco sumo geram para a sociedade. Milhões são gastos em bolsas, muitas vezes a preço de ouro cada uma, e, no final, não se analisa o impacto de tal investimento na vida do cidadão comum, na sociedade, na economia, na saúde, na engenharia e no país em geral.
O cidadão tem de sentir esse impacto em melhores médicos, melhores engenheiros, melhores gestores, melhores arquitectos, inventores, cientistas, criadores, melhores transformadores, etc., todos nacionais, bem-preparados e que contribuam efectivamente para o engrandecimento da nossa nação em construção. No dia-a-dia, o cidadão comum tem de sentir, ser influenciado, impactado, transformado pelas acções e decisões dos diplomados.
De nada vale falarmos o português mais vernáculo, que orgulharia Camões, dicção erudita, mas não passar disso, porque, na verdade, muitos só têm mesmo bom português, boa língua, mas não têm ética, moral, educação nem respeito e amor pelo próximo.
De nada vale andarmos nos carros mais portentosos e caros que o mundo oferece, quando, na realidade, os tais engenheiros não se arriscam a fabricar uma bicicleta. É só banga. De nada vale ambicionarmos os cargos mais elevados de uma organização, chegar ao topo da carreira, muitas vezes pulando etapas e com o suporte de quem indica (QI), mas nos esquecermos de abandonar a vaidade, a arrogância e o pensamento unipessoal.
Chegam ao topo sem projectos e ideias concretas para melhorar o seu meio, e as suas decisões diárias não impactam positivamente a vida dos viventes. De nada vale lutarem para chegar ao céu, quando não conseguem melhorar o chão, a terra, o campo e apenas desejam o título e as benesses que a função proporciona. Onde estão os nossos ilustres intelectuais?
O que eles fazem e qual é o impacto que o seu saber tem proporcionado na resolução dos problemas básicos das nossas sociedades? Quando lhes é dada a oportunidade de fazerem diferente, metem água, dão bandeira e borram tudo o que aprenderam ao longo da formação, cometendo erros básicos de cálculos: sem visão, sem estratégia, sem metas, sem objectivos, sem sonhos.
De nada valem os cargos, se não estão dispostos a servir com humildade, lisura e transparência, se não tiverem como fim último melhorar a qualidade de vida da sociedade onde estão inseridos.
De que valem os fatos, gravatas e títulos, se somos indiferentes ao sofrimento do próximo, à dor do outro, à fome do irmão, àquele que partilha a mesma nacionalidade, a mesma terra, a mesma pátria e ama, tanto quanto nós, essa terra abençoada que tem tudo para dar certo. Vamos tirar os fatos, as gravatas, os sapatos caros de sola seca e munir-nos de empatia, solidariedade e bem comum.
Vamos arregaçar as mangas e lutar contra tudo aquilo que prejudica a nossa nação e, sobretudo, não sejamos indiferentes ao sofrimento do próximo. Temos tantos doutores, mestres, licenciados e técnicos médios, alguns formados nas melhores universidades do mundo.
Devíamos tirar melhor proveito deles, para nos ajudarem a sair da imoralidade em que vivemos como se fôssemos todos desconhecedores da razão. Nunca tivemos tantos doutores angolanos, mas, em contrassenso, toda esta gente formada não consegue encontrar soluções concretas para os problemas da nossa sociedade. De que nos valem os fatos, gravatas e os títulos?
Por: OSVALDO FUAKATINUA