Falar e escrever, sobretudo essa última actividade, é uma questão de que se diz muito, embora a primeira seja mais flexível do que a primeira. Afinal, ninguém começa a escrever e depois a falar, quer dizer, a fala precede a escrita, é espontânea, natural— se olharmos para as línguas naturais, como as pessoas começam a falar.
No ambiente de monitoramento formal, a fala e a escrita são postas em balanças para medir o conhecimento linguístico-normativo dos usuários, a partir daí se fazem diversas inferências. Uma das inferências é atinente à crise de alguns particípios passados— especialmente dos verbos com duplo particípio, um regular e outro irregular.
Não há dúvidas de que a língua, variante culta e padrão, deve ser cultivada por todos os que se dizem académicos, intelectuais; falam e escrevem em contextos formais. É parte do que se chama “prestígio“, só para fazer jus aos anos de escolaridade.
A inferência sobre a crise dos particípios passados surge numa altura em que se constata um crescente atropelo, na comunicação formal, na conjugação de alguns verbos, levando-nos a questionar a competência linguístico-normativa— uma designação que adotamos para significar, com precisão, somente a língua padrão e culta, em oposição à linguagem espontânea, de contextos informais— dos profissionais de comunicação, académicos— o nosso público-alvo, pois seria injusto estender a quem não teve a oportunidade de frequentar uma instituição de ensino, de nível médio ou superior.
Os verbos sofrem até na boca e na mão de quem deveria fazer melhor! Diz-se que das influências e da evolução ninguém/nada escapa. Talvez seja essa a justificação que se tem. Sem julgamentos, por gentileza.
Em evidência ficam os seguintes verbos de duplo particípio: ganhar, aceitar, pagar, imprimir, matar, etc. Em recomendação, incentivamos a releitura— fazemos alusão a um público formado— da gramática normativa nas secções sobre os verbos de duplo particípio, tendo em vista o uso dos verbos auxiliares ter/haver e ser/estar.
Portanto, a crise dos particípios é um facto evidente que tem sido flagrado em contextos formais de comunicação oral e escrita, em profissionais de comunicação e académicos.
Por: MANUEL DOS SANTOS