Os angolanos são um povo lusófono, pois utiliza a língua com raízes portuguesas como o seu principal instrumento de comunicação internacional e é necessário compreender esta realidade e utilizá-la em seu próprio benefício, respeitando e sendo respeitado.
O espírito lusófono tem demonstrado ser, em geral, pacífico e fraternal, propenso à miscigenação física e cultural e à descoberta dos melhores valores humanos.
O poeta Luís de Camões é o primeiro mensageiro desta Comunidade Lusófona, pois demonstrou em seus escritos, seus poemas, muito respeito pelos povos africanos que encontrou nas viagens marítimas feitas após seu desterro e por mares nunca dantes navegados. Este poeta cantou em versos que as outras margens dos oceanos também eram mais belas em suas naturezas exuberantes e cheias de ninfas e amores.
O poeta Fernando Pessoa, antes de 1934, após ter vivido e estudado alguns anos na África do Sul, também vislumbrou uma comunidade lusófona desenvolvida e respeitada no mundo e tinha consciência sobre a difícil realidade portuguesa em seu pseudo-império colonial.
Fernando Pessoa tem uma percepção holística, universalista, das sociedades humanas e dos países, e talvez por isso faz referências a um Quinto Império que seria o império da cultura, ou seja, uma comunidade de diferentes povos com suas diferentes culturas, preservando-se as especificidades de cada povo, mas considerando-se os objectivos comuns profundos.
Esta união proposta por um dos poetas maiores da língua com raízes portuguesas, fundamenta-se no respeito e na preservação dos valores culturais de cada grupo e na sustentabilidade de um desenvolvimento social, económico e ecológico.
Não seria um império de domínio, mas de colaboração e criatividade aonde todos andam em linha e não em fila, capaz de responder equilibradamente aos novos desafios deste século XXI.
Muitos pensadores lusófonos nos seus países de origem têm alertado para a necessidade de se avançar mais para a construção desta Comunidade.
O pensador Cunha Leal, exMinistro do Governo de Salazar e exilado na sua aldeia natal por discordâncias políticas com Salazar, e outros pensadores lusófonos, à sua época, também alertaram para as necessárias mudanças na construção da independência dos novos países dos PALOP.
Agostinho Neto, Samora Machel, Agostinho da Silva, Joaquim Chissano, Amílcar Cabral, Holden Roberto e outros alertaram em seu tempo para a necessidade de Portugal cumprir-se perante si mesmo e perante o mundo das Nações civilizadas, alterando seu STATUS QUO colonial e criando de facto uma união de Nações lusófonas, e isso era perfeitamente possível antes de 1940.
Mas, mesmo com o sacrifício de todos estes pensadores lusófonos, as poucas pessoas que detinham o poder político, económico e militar em Portugal demonstraram falta de literacia, falta de uma visão holística, pois tinham uma visão com palas, fechada para a inovação e não vislumbraram o “MOMENTUM“ clamado pelos poetas e pensadores maiores lusófonos e outros.
O “MOMENTUM” foi desperdiçado e Portugal deixou de cumprirse. Se os detentores do poder político e económico portugueses tivessem compreendido as mensagens escritas em prosa e poesia pelos maiores pensadores da língua portuguesa, antes de 1940, saberiam que aquela era a ocasião para as necessárias e profundas mudanças sociais, políticas e económicas em Portugal e seus territórios ultramarinos.
Se os governantes portugueses, antes de 1940, tivessem preparado Portugal e seus territórios para uma independência e união, Se os povos, na generalidade, nos territórios portugueses à época e em Portugal continental tivessem ido à escola prepararem-se para assumirem democraticamente seus destinos, Se os cidadãos de cada um dos países lusófonos tivessem sido preparados para assumirem seus destinos através das suas estruturas governamentais construídas e a construir, Se Portugal tivesse assumido até 1940, mais ou menos, uma postura de liderança mundial, dando exemplo com transformações sociais, políticas e económicas no seu pseudo-império colonial, certamente ter-se-iam alcançado outros patamares de desenvolvimento sustentado, sem guerras fratricidas nos PALOP, e sem maiores traumas e certamente hoje a Comunidade Lusófona seria muito mais respeitada não só perante os lusófonos, mas também perante os outros povos. O respeito deve começar dentro de cada um, pois só assim os outros poderão também respeitar.
Portugal ter-se-ia cumprido plenamente como país inovador e criativo, como queriam os maiores pensadores lusófonos.
O facto de ter havido a chamada “REVOLUÇÃO DOS CRAVOS” em Portugal, quase sem derramamento de sangue, já serviu como exemplo para outras chamadas revoluções políticas na Europa do Leste e até em outros lugares.
Na ocasião, o “MOMENTUM” foi perdido e as consequências foram e ainda são desastrosas, traumáticas e graves.
Portugal hoje não tem o mesmo poder político que tinha em 1940, mas se realmente aprendeu com os erros e incongruências do passado e se realmente desenvolveu sua sapiência na Comunidade Europeia, pode colaborar mais intensamente com os outros países da CPLP na construção de uma verdadeira comunidade lusófona.
Já que Portugal não se cumpriu que se cumpra a CPLP. É na união que reside o verdadeiro e sábio poder.
Por: VALDEMAR FERREIRA RIBEIRO