Não são poucas as explicações para justificar os eventuais fracassos académicos, mas o dilema da justificação estende-se também aos professores. Recordo- me que no longínquo ano 1987, colegas meus que foram repatriados porque o regulamento da instituição não permitia transitar com cadeira em atraso, nem sequer uma no 1º ano de licenciatura, alguns justificaram-se perante os parentes de que tal repatriamento fora a pedido dos próprios, pela má culinária do país anfitrião.
POR: Miguel Filho
O que dizem os professores: seja na rede pública ou privada de ensino, as aulas são sempre lotadas, isto, entre muitos factores, condiciona o atendimento personalizado que facilitaria o acompanhamento das particularidades individuais do aluno no ensino elementar, daí as lacunas que se verificam no momento deste aplicar o aprendizado. Estudar para o exame de acesso nunca foi, e nem será, garantia de aprovação. A cada processo selectivo cresce o número de candidatos que chegam a essa constatação. Ainda assim, as causas das reprovações continuam sendo imperceptíveis para grande parte deles.
Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que os motivos do “fracasso” não se restringem somente aos aspectos relacionados ao estudo, como falta de orientação ou adopção do método errado. Existem muitos estudantes que se dedicam, integralmente, ao sonho de conseguir uma vaga no ensino superior e, ainda assim, são reprovados. Mas por que isso acontece? Para muitos, o momento escolhido para conseguir um melhor resultado ainda não é o certo. A escolha do curso e, consequentemente, da profissão tem sido imposta cada vez mais cedo, o que vem gerando insegurança e indecisão a alguns estudantes. Essa dúvida acaba resultando, muitas vezes, numa falta de dedicação e interesse do candidato. “Para quê se matar de estudar se eu nem sei se é isso mesmo que eu quero?
” Esse é um dos questionamentos responsáveis pela dispersão e falta de convicção do estudante, além do prejuízo aos estudos. A falta de estrutura educacional e vocacional nos ensinos fundamental e médio também pode prejudicar a actuação de muitos jovens nessa disputa. Por outro lado, até os estudantes decididos e que possuem uma boa base educacional correm esse risco, seja por problemas familiares que afectam directamente o seu desempenho, seja por conta da pressão pessoal e/ou familiar pela aprovação. Além disso, transformar o momento em único pode aumentar ainda mais a tensão, medo e ansiedade, prejudicando o desempenho do candidato na hora da prova.
Também aparecem factores como a insatisfação com o projecto pedagógico, professores, infraestrutura, recursos disponíveis, a reduzida oferta de vagas, o desemprego, e as dificuldades na aprendizagem. Há quem prefira estudar no período nocturno, por diversos motivos: por ter uma rotina muito corrida; por preferir o silêncio da noite e a falta de lazer; ou por ser apenas preferência sua; porque “rende melhor durante a madrugada” e prefere estudar à noite. Para tal, socorre-se de litros de café. No entanto é importante saber que longas horas forçadas sem dormir aumentam os níveis de corticosterona, considerado hormónio do stress no organismo.
É durante o sono profundo que as informações adquiridas durante o dia são armazenadas na chamada memória de longo prazo. E é também uma das regiões envolvidas na formação de memórias no cérebro – o hipocampo – que são mais afectadas pela privação do sono. Assim, se o indivíduo é privado das horas de sono profundo, seu hipocampo é afectado e o armazenamento de memórias também. O que você aprendeu durante as horas de estudo naquela madrugada podem estar simplesmente “entrando” na sua cabeça, mas sem permanecer lá. Além disso, a concentração e a atenção ficam prejudicadas, que provoca também fadiga mental e física, sonolência nas horas erradas e perda de motivação. Outro dano causado pela insónia forçada é a diminuição da produção de neurónios no cérebro.
Factores psicológicos
Temos recebido muitos candidatos ao ensino superior maiores de 25 anos de idade, que em outras paragens seriam inseridos num ‘pacote’ de ensino superior para adultos, mas que no nosso contexto disputam as exíguas vagas com os imberbes. Muitos desses candidatos adultos frequentaram o seu último ano do ensino geral há décadas implicando maiores dificuldades para a sua inserção académica. Qualquer interrupção entre uma e outra fase acarreta uma lacuna no conjunto de informações que estão sendo passadas de forma quase que instantânea. Se uma das reclamações é exactamente a do aprofundamento em tópicos abstractos da interpretação e do cálculo, ser consequente é fundamental para a absorção dos conteúdos. O uso de bebidas e entorpecentes, além dos problemas psicológicos decorrentes da adolescência também são factores que constituem uma parcela de responsabilidade nas reprovações. O famoso “branco” também é outro inimigo do exame, que costuma surgir justamente por conta do nervosismo e stress exacerbado. A busca de ajuda profissional, geralmente de psicólogos, seria uma das alternativas a adoptar pelos pais para auxiliarem os filhos no controlo emocional.
Como melhorar o seu estudo
No período da noite, até às 22h ou no máximo às 23h, é possível ter um bom aproveitamento de estudo. Estude dois ou três períodos com no máximo 50 minutos cada um. Não se esqueça dos intervalos de 5 a 10 minutos entre um período e outro. Nunca comece outra semana de estudo sem ter feito a revisão da semana anterior. Este procedimento ajuda na fixação da matéria, ajuda a ganhar tempo na véspera da prova e crie uma memória sobre aquele tema. Invista algumas horas nisso. Se o sono chegar durante o seu período de estudo, não lute contra o sono. Se conseguir, cochile entre 10 a 15 minutos ou levante-se, faça um alongamento, espreguice, tome água. Faça uma caminhada rápida pela casa e retorne ao estudo.
Deixe o ambiente de estudo bem iluminado para que você fique em estado de alerta
Na hora de preparar o seu material de estudo, invista em resumos dinâmicos, com informações categorizadas por cores e datas. Assim como existem outras inúmeras causas de reprovações, também existem outras possibilidades de passar no processo selectivo, por isso, sem desesperos. Se você foi reprovado, mantenha a calma, analise os passos em falso e reflicta sobre as suas escolhas. Essa é a hora de reavaliar o curso e a faculdade escolhida, os métodos de estudo e amadurecer a sua decisão. Enfrentar o “fracasso” como uma oportunidade é a melhor forma de conseguir êxito no futuro que, diga-se de passagem, nem está tão distante.