Nunca os dados meteorológicos tiveram tanta importância para muitos angolanos como nos dias de hoje.
As últimas enxurradas, que se diz terem ceifado a vida de mais de 300 pessoas, um número extremamente expressivo que nos obrigaria sem quaisquer remorsos a um luto nacional de poucos dias, fizeram do mês de Abril um dos mais tristes dos últimos anos. Sempre se soube que em Abril chuvas mil.
Aliás, nunca houve dúvidas em relação a isso, o que durante largos anos fez com que os angolanos, de Cabinda ao Cunene, do mar ao Leste, sempre tivessem nesta fase do ano apenas como uma época de fortes quedas pluviométricas, mas sem a intensidade destas duas últimas semanas.
Nunca houve dúvidas de que a chuva fosse obra da natureza e bem-vinda devido à importância que também possui.
Sobretudo no interior, aí nas zonas em que a agricultura ainda é a mola impulsionadora, fazendo com que milhares de cidadãos, que sobrevivem da cultura de sequeiro, cultivem para que dentro de algum período colham e possam inundar, no bom sentido, os mercados que dependem dos seus produtos.
O mesmo não se pode dizer em relação a Luanda, a capital do país. Com cerca de 10 milhões de habitantes, poucos são os espaços que restaram para que os cidadãos possam colocar as suas residências, sendo a maioria delas edificadas mesmo em zonas inapropriadas.
As últimas chuvas, que inundaram milhares de residências e ceifaram a vida de dezenas só na capital do país, trouxeram também à tona a fragilidade de muitas infra-estruturas erguidas ainda no tempo da outra senhora, assim como a falta de opções quanto à mobilidade rodoviária.
Um dos principais eixos da capital tem sido a conhecida via expressa, em Luanda, que permite a ligação entre os municípios satélites de Cacuaco, Viana e Belas, facultando igualmente a circulação entre os cidadãos provenientes das províncias mais a Norte e a Sul, sem que tenham que necessariamente irromper pela antiga Baixa de Luanda.
Embora não se possa menosprezar de modo algum a carga de água que se abateu sobre Luanda, uma das piores nos últimos anos, também já não se pode menosprezar que os problemas que ocorrem em determinados pontos da referida Via Expressa vêm se mostrando recorrentes.
Sempre que surgem algumas situações como as que observamos com as últimas chuvas, mormente o alagamento de estradas e a deterioração de outras, até construídas recentemente, lembro-me de duas figuras com as quais pude cruzar ao longo da vida jornalística.
Uma delas é o engenheiro Paulo Nóbrega, um profissional extremamente competente e hoje ao serviço do Executivo angolano no Novo Aeroporto Internacional de Luanda (NAIL), Dr António Agostinho Neto.
Há muito que vem suplicando que se faça uma auditoria ao estado em que se encontram as nossas vias, principalmente aquelas feitas no propalado período da reconstrução nacional.
A outra figura é um alto quadro do Ministério das Relações Exteriores da China, que um dia, num encontro neste país, salientou que tudo que o seu governo ou as empresas do seu país construíram em solo angolano obedeceu às solicitações do governo e das entidades locais.
Em outras palavras, tudo o que se vê hoje, a nível das estradas, centralidades, escolas e hospitais só foi possível após uma avaliação daqueles que tiveram a missão de negociar em nome do Estado angolano.
Ou seja, só nos podemos queixar destes, contrariamente às pragas que vamos rogando aos supostos construtores ou quem nos deu dinheiro por empréstimo.