Durante vários anos, a centralidade do Kilamba, inaugurada com pompa pelo então Presidente José Eduardo dos Santos, tornou-se no principal cartão de visita em Luanda. São poucos os estadistas ou chefes de Governo, sobretudo africanos, que chegaram a Luanda e não tiveram o prazer de visitar a centralidade.
POR: Júlio da Conceição
Morador do Kilamba
A estes o Estado angolano, representado pelos ministros da Construção e do Urbanismo, gabava-se de ter sido erguido uma cidade modelo, longe dos parâmetros arquitectónicos existentes nos musseques que acabaram por circundar toda a cidade velha de Luanda, em todas as suas vertentes. À medida que o tempo avança, a centralidade do Kilamba, que fez com que muitos então candidatos passassem noites para conseguirem uma inscrição, está a perder a sua mística. De novidade em termos arquitectónicos pouco ou quase nada deverá restar. Se, por um lado, existirão moradores que não se adequam ao estilo de vida para cidades do género, do outro está a própria administração que parece ter embarcado num processo de degradação acentuada do local. As notícias avançadas nos últimos dias de que o administrador cedeu um largo, junto do Bloco F, para ser transformado numa feira, demonstra alguma falta de capacidade organizativa e até mesmo de reagir, por parte de quem tem os destinos da edilidade nas mãos. Está aí uma péssima aposta para o processo das autárquicas que, certamente, o MPLA quererá vencer. O conceito de feira naquelas paragens tem sempre o mesmo significado: não se trata de algo literário ou intelectual. As poucas feiras existentes ao redor da centralidade, algumas das quais autorizadas pelo próprio administrador, acabaram por se transformar em autênticos locais de comes e bebes, onde a prostituição também já faz morada. É verdade que existem muitas famílias que hoje sobrevivem graças ao comércio feito nestes espaços, mas não se pode compreender que uma área tão nobre, como a zona do Bloco F, venha a merecer o mesmo destino que a periferia de centralidade. É imperioso que o governador Adriano Mendes de Carvalho visite o local ou mandate pessoas capacitadas para visitarem o espaço e o tipo de construção que se está a colocar numa área que poderia servir os moradores e cidadãos que visitam a centralidade de uma outra forma. Tem que se travar de uma vez por todas esta ânsia dos administradores municipais e alguns distritais de apostarem só em mercados, feiras de qualquer índole, porque elas representam mais alguns tostões para os seus bolsos ou das instituições que dirigem.