Ainda se está em Maio, mês dedicado à língua portuguesa, e é nele onde faremos uma reflexão voltada às variantes usadas no Brasil, em Portugal, em Angola e em outras localidades deste magnífico cosmo.
Lembro-me de quando comecei a apaixonar-me pela língua portuguesa, mais propriamente pela gramática normativa e por tudo quanto dizia sobre o certo e errado: a sintaxe, disciplina por qual me amarrei e tanto; a morfologia, que me ensinou que são os contextos que ditam, às vezes, o significado de palavras.
E, não deixando de lado, a linguística, ciência que me abriu a mente sobre a realidade das várias formas nas quais se pode apresentarse uma dada língua, mas com uma única finalidade: a de comunicar.
Assim, se quisermos comunicar, de facto, precisamos, de igual modo, de ser claros; ao articular a língua, tendo em conta os contextos, quer dizer, uma boa escolha de palavras no discurso.
Vejamos no diálogo abaixo: — Manuel, neste ano, não vais ao “vestibular” por quê? – Pergunteilhe, curiosamente! — O que é isso, cota!? Nem sei do que se trata. – Indagou-se, como se não conhecesse a palavra “vestibular”.
Ah, não sabes mesmo o que quer dizer “vestibular”, Manuel!? – Provocava-o, a ver se abrisse a mente. — Não, cota, infelizmente! – Insistiu na sua resposta. — Sem macas, vou dizer-te, então.
É o seguinte: “vestibular” é uma linguagem brasileira que, para nós, aqui em Angola, equivale ao “exame de admissão à universidade”. – Expliquei-lhe com tanto amor e carinho. — Sério, cota! Que novidade, tenho mesmo ouvido nalgumas novelas com tradução brasileira, mas nunca levei a sério o seu significado! Então, muito obrigado! – Agradeceu-me, com aquela felicidade no rosto.
Repara só ainda mais, rapaz: para os brasileiros, não se diz “talho”, mas sim “açougue”. Nem “reforma”, mas sim “aposentadoria”. Tampouco “claque”, mas “torcida”. Jamais “esquadra”, contudo “delegacia”.
Vês, meu querido, essas diferenças não as torna uma melhor do que a outra. Ou seja, os brasileiros, assim como os portugueses ou angolanos (sem nos esquecermos de outros países de língua oficial portuguesa), ninguém se deve considerar como sendo melhor, em se tratar do uso da língua portuguesa.
Esse comportamento, de que em algumas geografias é assim e noutras é de outro jeito, torna-a mais rica, linda e flexível.
Portanto, pega a visão, algumas palavras da língua portuguesa possuem diferenças na hora de uso, o significado pode ser o mesmo; no entanto, o significante é, quase sempre, outra coisa. (…) Quando terminei de explicar-lhe tudo aquilo, o rapaz ficou com as mãos encostadas sobre o queixo e os olhos estavam fixamente virados para mim, com a sensação de alguém que estava completamente satisfeito.
Logo, no que à semântica de palavras diz respeito, nas variantes que se usam no Brasil, em Portugal, em Angola – ou noutras localidades onde se tem o português como idioma oficial –, usa-se ou uma palavra, ou outra, no entanto, graças a Deus, nós, aqui em Angola, às vezes, preferimos as duas ao mesmo tempo.
Quando dissemos “ônibus”, é na tentativa de querermos dizer “autocarro”, tudo vale. Ou talvez, tentando dizer “fato”, na mesma proporção, dizemos “terno”.
Quando referenciamos o “telemóvel/telefone”, nós dissemos, nalguns momentos, “celular”, tal qual o dizem os brasileiros.
A língua, tendo em conta a tudo isso, portanto, não se importa. Segue adiante sem mágoas de quem a usa à sua maneira, desde que, para isso, se comunique bem e faça perceber seus interlocutores.
Por: GABRIEL TOMÁS CHINANGA