Depois da inesperada derrota do Petro de Luanda diante do TP Mazembé da República Democrática do Congo em pleno Estádio 11 de Novembro, pensei nas lições, mais algumas, que o futebol pode ensinar a uma nação e a um povo que delas tão bem precisam. Quem vê, mesmo ocasionalmente e por breves segundos, os jogos do Girabola ou até mesmo da selecção nacional, percebe o divórcio que já dura há vários anos entre os adeptos e o desporto no geral e o futebol em particular.
As imagens confrangedoras das bancadas (quase) totalmente vazias dão vergonha e nos deviam fazer reflectir sobre o que se vai fazendo por cá em matéria de desporto. Como se sentem os artistas da bola cada vez que entram para o terreno de jogo e não vêem mais do que meia dúzia de pessoas num estádio com capacidade para mais de 50 mil como é o caso do 11 de Novembro? E como pensam os dirigentes desportivos manter a sustentabilidade dos clubes e das competições se falta o essencial: o apoio do público? Vez sim, vez também, pergunto-me: Para quem se exibem os clubes angolanos cada vez que jogam?
Quanto angariam estes ou até mesmo a Federacão Angolana de Futebol com a venda de ingressos para os jogos ou com a venda de merchandising? Pergunto-me e lembro-me do Twente, clube holandês de futebol, cuja maior fonte de receitas na época futebolística 2022/2023 foi a venda de cerveja e de comida no seu estádio, superando até mesmo as receitas obtidas com a venda de jogadores. Isso só se consegue com público nos estádios e, sobretudo, com um público agradado com o espectáculo que assiste. Até porque, no futebol, o mais importante ainda é resolver os problemas dos adeptos.
O Petro, por mérito próprio, vai sendo a única equipa a contra riar essa triste realidade. Graças a bons jogos, algumas boas exibições e alguns bons resultados, o Petro vai reconquistando o seu público e ganhando a simpatia até de quem não é seu adepto. Não é por acaso que as duas maiores enchentes em jogos de futebol dos últimos anos foram protagonizadas pelo Petro de Luanda. E, aqui, surge a primeira lição do mestre futebol: quem quer ter o apoio do público tem de, obrigatoriamente, mostrar resultados. De nada valem os apelos ao público para encherem os estádios, para apoiarem as equipas e os atletas, nem servem as constantes críticas e acusações de falta de patriotismo devido a um maior apoio aos clubes estrangeiros.
O futebol é (e tem de ser) um espectáculo feito para entreter, para agradar e satisfazer o povo com vitórias. O público só será fiel se estiver satisfeito e feliz. Tentar conquistar apoio popular sem resultados positivos é mera utopia. No entanto, e como que a querer justificar a máxima segundo a qual no melhor pano cai a mancha, os resultados daqueles dois jogos não são de feliz memória. A frágil ligação que se criou pode rapidamente ser perdida à medida que o encanto vai dando lugar à desilusão. Um adepto, expressando a sua frustracão, sugeriu, numa rede social, que o problema do Petro talvez seja mesmo a incapacidade de jogar num estádio lotado, deixando a entender que o melhor seria o público deixar de ir ao estádio.
Parece contranatura, mas os adeptos têm o direito de pensar o que quiserem e cabe aos artistas da bola mostrar que não é o que se pensa. Contudo, antes que o façam, permitam-me tirar daqui a segunda lição do mestre futebol semelhante à primeira: a falta de resultados afasta as pessoas, até mesmo os adeptos mais antigos e fervorosos. O futebol mostra-nos que se, até determinada altura, os resultados não começam a aparecer, se os objectivos não são alcançados, se as pessoas não têm prazer algum no espectáculo que lhes é dado em detrimento do espetáculo que elas realmente gostariam de ver e até de fazer parte, não é possível engajá-las numa causa por muito tempo.
As pessoas querem sentir-se parte de um todo, querem participar, querem dar o seu contributo e sentir que o seu engajamento e a sua participação são apreciados e que conduzem ao sucesso de todos. Portanto, a lição é simples, se as pessoas não participam é porque não gostam do que estão a ver ou a viver. E isso serve tanto para o futebol como para todas as outras áreas da vida. O Petro tem pela frente um grande desafio: o de manter os adeptos que conquistou. Os próximos jogos nas competições da Confederação Africana de Futebol serão determinantes. Ou ganha e terá os adeptos consigo, ou perde e vai ter de vê-los partir, um a um. É assim o futebol, é assim a vida. Aprenda quem quiser!