Convicto de que a razão da nossa existência ser um oceano em exploração, o homem continua à procura de significados da vida em cores, pintando-os com esperança do seu desejo e o poder da sua inteligência.
O mundo é, vemo-lo todos, conquanto haja diversas sensações em nossa observação, muitas vezes condicionada pelas nossas crenças e medos; a única certeza é de que não é uma opção deixarmos em branco o fenómeno diante de nós.
A evolução do pensamento manifesta vários desejos, o de não ser um mero espectador do mundo é o maior deles.
A cultura, no seu sentido amplo, é evidência de que o homem interpreta o mundo com o seu pincel, escolhe as cores que mais se adequam às suas sensações, proporcionando-lhe algum sentido de poder sobre o seu destino, para pintar o mundo.
As cores dão vida às palavras e aos significados, mais ainda, são o factor de distinção e clara das coisas, das convicções e convenções.
As cores acompanham todo o exercício do homem, desde o comum aos cultos, desde as emoções aos estados apurados da razão. Há cores de factos, com as quais os cientistas olham os fenómenos e explicam-nos.
As cores dos poetas transcendem os modos normais, seus pincéis espelham criatividade e atiçam a sensibilidade de cada um de nós, somos sempre convidados a viajar, conhecer mundos impossíveis.
Não é à toa os poetas são vistos com alguma restrição, há quem os considere loucos pela ousadia dos seus pensamentos.
A chuva fala em linguagem das nuvens, seu autor é interpretado de várias formas; na época dos deuses, o da chuva seria anunciado, hoje a cor científica o silencia impiedosamente.
Um facto interessante em nós é a possibilidade de mudanças que temos, permito-nos desenhar os espaços conquistados com o ar de satisfação, também nos queima as expectativas diante de desastres, no entanto continua a ser uma possibilidade real.
Certa vez tinha escrito um texto a um amigo de boas memórias, fi-lo na intenção de despertar a curiosidade sobre a questão da existência, usei as cores filosóficas, o pincel era de nível médio.
Lá estava a questão do sentido de viver correctamente num mundo desconectado de justiça objectiva, tendo como facto a mera convenção da moralidade.
Apenas recorreu à retórica de quem não quer justificar suas certezas “não há necessidade de um sentido objectivo”. O mundo é medido pelas cores que usamos, nossos pincéis representam aquilo que nos faz sentido.
Por: MANUEL DOS SANTOS