Ainda “fedelho”, recordome de ouvir no rádio o nome de Augusto Pinto “Ganino”, atleta que personificava a garra e determinação dos tenistas angolanos, entre as décadas de setenta, oitenta e noventa.
“Ganino” venceu tudo o que havia para vencer em Angola e na região austral do nosso continente. Augusto Pinto iniciou a prática antes da Independência Nacional e destacou-se neste período em que começou a tomar parte em competições nacionais e internacionais, tendo conquistado, entre outros, quatro campeonatos provinciais e seis nacionais na década de 80, em representação do Petro, ASA e Sagrada Esperança da Lunda-Norte.
Representou o país, em 1988, no Campeonato Africano de Brazzaville, República do Congo, além de torneios em Portugal (1982, 83 e 84) e em Cabo Verde, numa prova dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa em 1995.
“Ganino” deixou-nos em 2019, aos 71 anos, vítima de doença, mas os seus feitos ficarão eternamente ligados ao pioneirismo do ténis em Angola.
Lá de cima, o malogrado tenista estará certamente rejubilado com a realização em Angola, pela primeira vez, da Taça Davis, o mais prestigiado torneio mundial da modalidade, destinado a selecções nacionais.
A Taça Davis de África, prova inserida no calendário da Federação Internacional de Ténis, a decorrer no court do Kikuxi Villas Club, município de Viana, em Luanda, conta com a participação de uma dezena depaíses da quarta divisão que disputam dois lugares de acesso à terceira fase do escalão sénior.
A escolha do país deveu-se à avaliação dos projectos implementados pela Federação Angolana de Ténis, no ano passado, a organização do Circuito ITF/CAT Sub-14 e o Torneio Mundial ITF J30, ambos disputados em 2023.
O objectivo da FAT é fazer de Angola o epicentro do ténis na região da África Subsariana, numa concorrência directa com a África do Sul que, entretanto, alberga provas com maior regularidade.
A prática desportiva que estimula o lado social, a actividade física e o desenvolvimento dos estudantes é sempre bem-vinda em qualquer sistema de ensino, como no nosso em Angola.
Mesmo sendo considerada uma modalidade cara, por que não inserir o ténis no desporto escolar em Angola? Um projecto desta grandiosidade precisa de utilizar materiais adequados à faixa etária das crianças, como bolas, raquetes e redes com a dimensão e peso correctos, para facilitar o aprendizado, sem o risco de lesões e acidentes.
A aquisição destes materiais e a contratação de profissionais poderiam ser custeados através de parceiros sociais, como as empresas estrangeiras de exploração petrolífera, que nos seus países de origem há programas similares.
Auguramos que a realização da Taça Davis África, do Grupo IV para zona africana, assinale um marco significativo para o ténis angolano, abrindo portas para a massificação da modalidade nos quatro cantos do país, descobrindo novos “Ganinos” que se tornem, num futuro próximo, os baluartes do nosso ténis por cá e além-fronteiras.
Por: LUÍS CAETANO