Vivemos tempos em que o poder e a influência deixaram de ser monopolizados pelos governos tradicionais. Figuras como Elon Musk, Mark Zuckerberg, Jeff Bezos e Sundar Pichai não apenas comandam algumas das maiores empresas do mundo, mas estão a transformar a iconografia política global.
Esses líderes, oriundos de gigantes tecnológicas como Tesla, Meta, Amazon e Google, representam uma nova classe de poderosos que transcendem fronteiras e desafiam paradigmas antigos.
Elon Musk, frequentemente o mais visível deste grupo, tornou-se sinônimo de inovação e controvérsia. Seu gesto recente – um misto de provocação e desdém – talvez seja aceito como estratégia nos negócios, mas revela uma completa inadequação no campo político.
A política exige sutileza, diplomacia e respeito à diversidade de opiniões, qualidades que o gesto de Musk parece ignorar. Embora sua competência no mundo corporativo seja inegável, há dúvidas sérias sobre sua capacidade de atuar em espaços que demandam visão coletiva e compromisso com o bem público. Mark Zuckerberg, por outro lado, apresenta um contraste.
Embora muitas vezes criticado por decisões controversas envolvendo privacidade e desinformação, ele busca moldar o futuro das interações humanas por meio do metaverso, uma aposta audaciosa que mistura conectividade e controle.
No entanto, é preciso perguntar: essas iniciativas servem à sociedade ou reforçam um modelo de negócios predatório, que prioriza o lucro sobre o bem-estar coletivo? Jeff Bezos e Sundar Pichai também trazem à tona questões similares.
Bezos, com sua obsessão por expandir o domínio da Amazon para além da Terra, parece mais focado em projetos de autoengrandecimento do que em resolver os desafios prementes do nosso planeta.
Já Pichai, com sua abordagem mais discreta e técnica, representa um equilíbrio interessante, mas ainda insuficiente quando analisado sob a ótica das desigualdades sociais que suas plataformas alimentam.
Enquanto todos eles dominam o jogo do capitalismo, a transição para a esfera política global é outra história. Governar não é administrar empresas, e a falta de experiência na construção da paz é um ponto fraco evidente entre esses líderes.
A iconografia política que eles trazem – gestos ostensivos, ambições tecnológicas e discursos polarizadores – desafia a tradicional ideia de liderança baseada em serviço público e empatia. O gesto de Musk, em particular, não é apenas inaceitável, mas perigoso.
Ele exemplifica uma mentalidade que pode funcionar no competitivo universo dos negócios, mas que é catastrófica quando aplicada ao cenário global. A política exige diálogo, concessões e, acima de tudo, a capacidade de colocar os interesses coletivos acima dos pessoais.
Esse tipo de comportamento – que reduz complexidades a espetáculos de egos – ameaça minar as bases do que significa liderar no século XXI. É importante reconhecer que a ascensão desses novos líderes reflete mudanças profundas no mundo contemporâneo.
Eles não representam apenas o poder econômico; são ícones culturais que personificam as aspirações e os medos de nossa era. No entanto, à medida que essa nova iconografia política emerge, precisamos questionar: que valores ela carrega? E, mais importante, que tipo de mundo ela está construindo? O sucesso desses líderes na política global não será medido por suas conquistas financeiras ou tecnológicas, mas pela sua capacidade de inspirar confiança, promover justiça e liderar com responsabilidade.
Precisam aprender que gestos importam – tanto quanto palavras e ações – e que a verdadeira grandeza política reside em construir pontes, não muros. Ao olhar para os “Novos Quatro Magníficos”, vemos tanto a promessa quanto o perigo.
A promessa de um futuro moldado pela inovação e pela criatividade. O perigo de um mundo onde a ética e a empatia são deixadas de lado em nome do espetáculo e do lucro. Cabe a eles, e a nós, decidir qual caminho será trilhado.
Por: JOSÉ MANUEL DIOGO