É verdade que um texto é uma unidade complexa marcado por elementos que suavizam o conteúdo. Conforme afirma Vieira da Silva “Possui uma textura própria, já que não é um mero somatório de palavras isoladas.
Pelo contrário, estas surgem interrelacionadas em unidades maiores, com sentido ( grupos frásicos, frases, parágrafos)”.
É um conjunto de palavras e frases encadeadas que permitem a interpretação e transmitem uma mensagem.
Ainda que cada texto seja uma unidade distinta, não deixa de ser agrupável num tipo ( literário, não literário) ou género ( narrativo, lírico e dramático).
Antes de se apresentar os mecanismos para uma análise textual, comprometemo-nos a conceituá-lo como a capacidade interpretativa do texto em partes para se compreender o todo, através da exploração vocabular, dos sinais de pontuação melódicos, das figuras estilísticas do texto de modo a achar o dito e o não-dito do texto.
É a decomposição das partes textuais, a investigação mais profunda e completa dos diferentes segmentos da obra estudada, o poder de síntese, a capacidade de estabelecer relações entre os componentes narrativos e a propriedade de compreender os elementos intrínsecos à linguagem artística.
A sua função essencial é conferir uma ordem ao emaranhado do texto literário e estabelecer uma lógica racional ao estudo da literatura ( LECHAT, 1962, p. 39- 45). Para a análise literária, o texto torna-se o ponto de partida e de chegada. Para se fazer uma análise textual, deve-se pautar, de antemão, pela leitura do texto.
Ler quantas vezs forem necessárias. Torna-se difícil analisar um texto sem que se tenha em mente o que se pretende explorar de concreto; a missão principal, o foco. A leitura necessária para uma análise não é igual à leitura recreativa, aquela realizada de maneira normal e que visa semples diversão do leitor.
O “ analista” precisa ser um leitor apetrechado o suficiente para extrair dela todos os elementos e relações que sustentam inferências seguras, plausíveis e convincentes” ( MOISÉS, 2014, p. 17).
Na visão de Massaud Moisés, são oito etapas que se devem levar em conta à análise textual: 1º. Representar primeira leitura da ordem estudada Leitura mais simples com um carácter lúcido e recreativo que permite a transmissão de uma visão global da obra; 2º.
Depois da compreensão geral da obra, começa-se a segunda leitura. Esta leitura deve se fazer acompanhar de um lápis na mão, uma vez que é importante assinalar os trechos mais problemáticos da narrativa, aqueles em que o entendimento não ficou totalmente claro.
Faz parte desta etapa a investigação das dúvidas contraídas pelo analista.
Aqui, não se pode avançar no estudo sem a elucidação dos pontos listados como problemáticos; 3º. Neste ponto, o contacto com a obra literária visa o estudo estrutural da narrativa, a verifcação temática ou o exame do índice conotativo das palavras e das expressões utilizadas pelo escritor.
O objectivo desta fase dependerá da intenção do analista, isto é, ele pode explorar a estrutura narrativa, aprofundar na temática da obra ou a questão central pode ser a retótica do texto ( TODOROV, 2013, p. 879) .
Não é possível a exploração destes três elementos de uma só vez. Logo, o analista deve escolher um dos elementos e focar-se; 4º. Nesta fase, o analista explica aquilo que entendeu do texto estudado.
Deve apontar ou listar as recorrências encontradas. Por exemplo, se o objectivo do trabalho é a compreensão da retórica textual, neste momento o analista deve apresentar os significados conotativos das palavras, expressões, trechos e capítulos da obra.
Se, por outro lado, o objectivo é o entendimento da estrutura narrativa, devem-se mostrar quais os elementos formais da história são identificáveis ou estão relacionados entre si. 5º.
Deve-se buscar as informações para embasar as descobertas realizadas. Aqui, o analista literarário averigua temas referentes ao contexto da obra ( bibliografia do autor, relação entre os títulos de um portfólio, as opiniões e as entrevistas do escritor a respeito da sua podução e aspectos históricos, socioeconómicos e culturais que podem ter influenciado o texto ficcional) e temas específicos que são importantes para aquela análise ( psicologia, sociologia, linguística, semiótica, política, etc.). 6º.
O analista deve organizar em ordem de importância as constantes ou as recorrências identificadas no texto. É fundamental utilizar critérios estatísticos para realizar esta mensuração; 7º.
Depois, o responsável pela a actividade analítica deve interpretar as suas descobertas. Aqui, busca-se relacionar todas as inferências levantadas com as evidências objectivas encontradas. Tudo que for afirmado previsa ser comprovado definitivamente; 8º. Esta fase é dedicada à redação do trabalho.
Depois da conclusão obtida, o analista precisa registar os resultados alcançados, divulgando-os para os interessados. Na maioria das vezes, a análise literária é usada pelos teóricos da literatura, pelos críticos literários e pelos historiógrafos como matéria-prima do seu trabalho.
É com nestes passos propostos por Massaud Moisés que conseguimos fazer uma análise literária consistente e de lembrar também que, contariamente ao que ele expôs na quinta fase, o Formalismo Russo defendeo papel funcional dos dispositivos literários e sua concepção original de história literária, recusando, assim, as abordagens tradicionais do âmbito psicológico, sociológica ou histórico-cultural.
Por: ALBERTO BAPTISTA
*Professor, crítico literário e estudante universitário*