Há dias, o Facebook recordou-me de uma memória do dia do lançamento do meu primeiro livro.
Senti-me nostálgico ao reviver as emoções daquele dia: o nervosismo próprio do começo, a alegria ao ver os rostos conhecidos que se fizeram presentes, a satisfação ao ouvir as palavras elogiosas dirigidas ao livro, a confraternização pós-lançamento.
São momentos como esses que julgamos que nunca vamos esquecer, e, embora talvez assim seja, a verdade é que, com o tempo, pensamos cada vez menos no passado e os detalhes desses momentos começam a ficar esbatidos.
Por isso, vou me sentindo cada vez mais nostálgico sempre que essas ferramentas digitais me trazem à memória lembranças que já vão se desvanecendo com o passar dos dias.
Na busca incessante pelos sucessos futuros, pelas coisas que quero e desejo, vai sobrando cada vez menos tempo para lembrar das coisas boas que aconteceram ao longo da minha própria caminhada.
A conclusão de um curso, o primeiro emprego, a primeira viagem para algum lugar, um simples passeio com os amigos, o primeiro livro concluído, a primeira entrevista, o primeiro encontro com os leitores.
Tenho no telefone mais de quatro mil arquivos, entre fotos e vídeos, de momentos que vivi e decidi gravar para poder revivê-los mais tarde.
No entanto, confesso que, na azáfama dos dias, entre as muitas horas perdidas no trânsito, as ocupações profissionais, as ocupações parentais e tantos outros assuntos, quase que nunca os vejo, mas também não tenho coragem de os apagar.
Novos dias surgem e com eles novos momentos, novos eventos, novas conquistas, novas memórias, novas fotos, novos vídeos que se vão juntando aos outros tantos que provavelmente não reviverei.
A memória também já não ajuda. Vai me atraiçoando com maior frequência. Apaga coisas que gostaria de lembrar e me recorda de coisas que não me importava nada em esquecer. Na minha cabeça, as coisas já vão ficando trocadas.
Na rua, deparo-me, às vezes, com rostos familiares, mas que já não consigo me lembrar onde os conheci, se numa escola onde estudei, no bairro onde cresci, nalgum sitio onde trabalhei.
Menos ainda me recordo dos nomes, e, pior ainda, das datas importantes.
Vão, por isso, me salvando essas memórias digitais que, volta e meia, surgem pedindo-me para serem republicadas, mas que, no fundo, o que mais importante fazem é me ajudar a recordar desses momentos que, algum dia, já foram importantes.
As ferramentas digitais tornaram-se numa espécie de gestores de memórias pessoais. Sem que eu peça, vêm logo em meu auxilio.
Logo pela manhã, dão-me as memórias que eu deveria lembrar.
Gasto algum a tempo a vê-las e gasto ainda mais tempo a revivê-las, a matar saudades de todas as pessoas com quem partilhei aqueles momentos e a tentar lembrar-me de tudo o que senti naquele dia, naquele momento.
Gosto bastante quando as minhas memórias digitais me alertam sobre os aniversários ou eventos de amigos, ajudam-me a me lembrar, a me preparar, a viver e a criar novas memórias.
Agora, até já espero por essa “ajuda-memória” e decepciono-me quando termina o dia e não tenho qualquer memória para relembrar.
Aguardo. Amanhã, talvez surja alguma coisa para recordar. Portanto, hoje, mais do partilhar as minhas actividades para promové-las, partilho para que fiquem registadas e para que me possa recordar delas mais tarde.
Sei que chegará um dia em que não terei mais nem a mesma disponibilidade, nem os recursos para andar por aí a viajar, a criar coisas novas, a ser convidado para eventos; então, vou, hoje, guardando boas lembranças dos momentos que vivo; porque, se recordar é viver, quando esse dia chegar, viverei feliz (assim espero) revivendo as boas lembranças que as memórias digitais me trouxerem de volta.
Por: SÉRGIO FERNANDES