Foi ou ainda é, porque a música se mantém viva até aos dias de hoje, em ‘choffeur de praça’ que Luis Visconde conta a estória de um cidadão que quis dar o show numa zona alagada pelas águas da chuva, mas o motorista não quis em momento algum colocar em perigo o seu ‘popó’. Tudo por conta da chuva. Para tentar convencer o motorista, o passageiro, acusado de querer dar show, salientou que os estragos que existiam na rua ou na estrada deviam-se, somente, a um fenómeno que é, no fundo, obra da natureza.
Talvez por isso, na perspectiva do homem o condutor devesse, sem receios, ultrapassar os buracos, charcos e outros males provocados por este fenómeno natural. Desde que o mundo é mundo como o vemos nos nossos dias, as chuvas sempre existiram. É para muitos um benefício e para outros uma autêntica desgraça. Que o digam os moradores dos morros do Lobito, que nos últimos dias viram morrer cerca de 10 pessoas, ou ainda os automobilistas que todos os dias circulam pelas principais estradas do país.
O facto de as chuvas existirem desde sempre seria uma das razões para que qualquer empreitada que pudesse ocorrer tivesse em conta estes elementos e não pusesse logo em perigo as infraestruturas em andamento nem tão pouco as já existentes, como estradas, escolas, hospitais e outros. Não está em causa as grandes enxurradas que em qualquer parte do mundo acabam sempre por colocar em perigos diversos bens. Mas assim aquelas quedas pluviométricas que passariam despercebidas em territórios em que o rigor na construção, fiscalização e acompanhamento não colocariam em segundo lugar a qualidade, durabilidade, segurança e o interesse público.
É sábido, por exemplo, que por estes dias que os estragos numa ponte no Cuanza Norte, particular- mente em Cambambe. Por esta razão, centenas ou até mesmo milhares de automobilistas e passagei- ros que se deslocam às províncias do Huambo, Bié, Cuando Cubango ou determinados municípios do Cuanza Sul têm vivido uma autêntica odisseia. Além da distância, que quase duplica a viagem, as condições de transitabilidade em determinados pontos se vai mostrando cada vez mais difícil nas vias alternativas, que deveriam merecer uma atenção particular neste período para sanar os buracos e outros males que se observam.
O cansaço, a reposição de peças sobressalentes para os carros, autocarros e camiões, e até mesmo a perda de vidas humanas estarão a acontecer devido ao estado das vias alternativas tudo por conta do encerramento da ponte do Dondo. Há quem, certamente, estará a atirar culpas à bendita chuva que são tão preciosas para os camponeses e demais empresários agrícolas que tencionam erradicar um dia a fome no país.
À semelhança do bangão que Luís Visconde, não se estarão importando com aqueles que a esta hora possam estar a amaldiçoar este magnífico e importante fenómeno natural. Se fosse vivo, certamente que Visconde nos nossos dias voltaria a dizer que a chuva é obra da natureza. E nós o ajudaríamos a acrescentar que os empreiteiros é que nos devem oferecer obras melhores que pudessem, no mínimo, resistir a quedas pluviométricas internas que noutros países, em que chove sempre, seriam considerados autênticos chuviscos.