África e a teoria das áreas Monetárias Óptimas IV

Dando sequência à abordagem dos artigos anteriores, conclui-se que uma área monetária é óptima se, em presença de choques externos assimétricos, afectando a procura de bens e serviços e/ou a oferta de factores de produção de um ou vários países da mesma, entram em acção processos automáticos de ajustamento, tornando desnecessárias as alterações das taxas de câmbio entre os países ou regiões.

A discussão referente ao processo de ajustamento no quadro das hipóteses de flexibilidade salarial e/ou de mobilidade do factor de produção trabalho assentou na existência de um regime de câmbios fixos.

ma vez que o critério de determinação de uma área monetária óptima estaria ligado à possibilidade de nessa área poderse resolver o dilema inflação/ desemprego sem a necessidade de recurso às variações cambiais, per si, podemos considerar que tal situação corresponde a uma área monetária óptima e que a abordagem de Mundell torna-se menos clara e, portanto, sujeita a diferentes interpretações? É importante relembrar que, para Mundell, o pressuposto básico dessa possibilidade assentaria na existência de mobilidade perfeita do factor trabalho.

Levando a que numa área monetária óptima haja vantagens em instaurar uma moeda única. Afastando à partida a hipótese de a área monetária óptima coincidir com a economia mundial, logo, a ausência de mobilidade internacional do factor trabalho, levaria a que um possível acordo entre os bancos centrais sobre a repartição dos custos referentes ao ajustamento internacional não evitaria simultaneamente altas taxas de inflação e desemprego entre os países membros e que a simples existência de uma moeda única não implicaria necessariamente a existência de uma área monetária óptima.

Contudo, a adopção do critério de mobilidade factorial leva a um outro problema (da definição do próprio critério), mostrando logo a mobilidade factorial como um conceito relativo e não absoluto, uma vez que necessariamente, se modifica em função de condições políticas, económicas, culturais, etc.

Provavelmente, caso se pretendesse fazer coincidir a área monetária com o espaço de mobilidade do trabalho, ter-se-ia uma infinidade de áreas monetárias e de moedas.

Ou seja, de forma teórica, ganhar-se-ia em termos de eficácia do processo de ajustamento mas perder-se-ia na perspectiva das vantagens da redução do número de moedas. No limite, a área monetária óptima poderia coincidir com a produção de um bem e as vantagens da existência da própria moeda desapareceriam, regressando-se assim à troca directa.

O tamanho da área monetária deve ser um outro aspecto a levar em consideração aquando da definição dos critérios de óptimo. Pois, quanto menor for uma área monetária, maior será a sua vulnerabilidade à especulação, dando a um simples especulador a capacidade de influenciar de forma decisiva o curso de uma moeda.

Conclusivamente, a discussão de Mundell relativamente às zonas monetárias óptimas considera a possibilidade de dividir o mundo em regiões onde existisse a mobilidade interna de factores e entre elas imobilidade, cada uma destas regiões deveria ter uma moeda e estas deveriam estar ligadas entre si por um sistema de câmbios flexíveis.

A questão reside no facto dessa necessidade teórica não ter contrapartida em termos da situação real o que remete para a consideração de um outro problema que é o da criação de condições de optimidade que está presente.

Em síntese, poder-se-á afirmar que a teoria das áreas monetárias óptimas disponibiliza um referencial analítico indispensável caso se queira ponderar os custos resultantes do facto de se abdicar da taxa de câmbio enquanto instrumento de política monetária, face a choques externos assimétricos.

Ao reduzir o problema da possibilidade da criação da moeda única à determinação das condições que, em presença destes mesmos choques, tornam dispensável o recurso às modificações da taxa de câmbio, não deixa de restringir o leque de hipóteses de considerar as vantagens da moeda única e as situações em que ela é preferível à existência de uma diversidade de moedas nacionais.

Portanto, afasta-se tanto a perspectiva de que a moeda única, enquanto criadora de uma nova realidade económica supranacional, pode ser um instrumento de correcção de assimetrias internas, geração de sinergias e valorização da inserção internacional colectiva quanto a perspectiva de o processo de unificação monetária aspirar objectivos que ultrapassem a simples eficácia em termos de gestão económica.

Assim sendo, não é a criação da moeda única que deve estar em causa aquando da discussão dos cenários para a prossecução da integração económica em África, mas sim as modalidades, timings e as cautelas a respeitar pelo processo de criação das áreas monetárias. Sendo aqui onde reside todo o potencial e aplicabilidade da teoria das áreas monetárias óptimas.

 

POR: Wilson Neves

Economista

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