Terminou no Domingo, a Jornada Mundial da Juventude 2023, realizada em Portugal, que teve lugar de 01 a 06 de Agosto. Durante os seis dias, os olhos de quase todo mundo estiveram virados para Lisboa, a capital do mundo nestes dias, como fez questão de assinalar o próprio Papa Francisco, logo no primeiro dia da sua chegada.
A Jornada Mundial da Juventude acaba sempre por ser um momento de festa e alegria, quer sejamos católicos, membros de outras denominações religiosas ou agnósticos, pelo seu cariz de cruzamento de culturas, trocas de experiências, solidariedade e acolhimento.
O Papa Francisco teve uma agenda intensa, dentro da programação da JMJ2023, entre encontros públicos e privados, cercado por jornalistas e participantes que queriam vê-lo de perto, tocar, arrancar uma palavrinha ou até mesmo oferecer um presente, quebrando várias vezes o protocolo, parando a caravana para abençoar os bebés e doentes, algo que lhe é peculiar.
Foi um evento bonito de se ver, pelo menos para aqueles que como eu acompanharam pela televisão, cores engalanadas de bandeiras de países e de várias organizações e a diversidade cultural de quase todos os cantos do Planeta Terra.
Todos falando a mesma língua, a linguagem do AMOR, este amor de Jesus que é a única coisa que temos de graça, como assinalou, ao se dirigir aos presentes num dos momentos da Jornada.
Das inúmeras reuniões realizadas nesta JMJ2023, destaco, sem demérito para as outras, o encontro de Quinta-feira (3) com os jovens da “Scholas Occurrentes”, inaugurada em 2019 em Cascais, um programa que fundou em 2001, em Buenos Aires, Argentina, nas vestes de Jorge Bergoglio, na época Arcebispo da capital daquele país da América do Sul, actualmente presente em 190 países, integrando mais de 400 mil centros educativos, que acolhem mais de um milhão de crianças e jovens.
Foi para mim, dos encontros mais simples, realizados nesta Jornada que findou no Domingo. Francisco despiu-se das vestes de Papa e desceu ao encontro dos jovens, muitos deles sentados ao chão. Deixou-se questionar por jovens católicos e não católicos.
Vi um verdadeiro filósofo a trocar ideias com jovens em torno do tema escolhido para este dia: A VIDA ENTRE OS MUNDOS: O CAOS.
Foi interessante ouvir o Papa a apresentar a sua perspectiva sobre o caos e a deixar-se ensinar pelos jovens. Para Francisco, uma vida que nunca sentiu o caos é uma vida destilada, toda perfeita, e as vidas destiladas não dão vida.
Uma vida sem caos é por si só fracassada. Uma vida sem crises é uma vida asséptica (…), é como água destilada. A água destilada é uma água sem crises.
Não tem sabor a nada, não serve para nada, a não ser para guardar no roupeiro e fechar a porta. Há que assumir as crises e resolvê-las e isso, só se consegue caminhando juntos.
E o papel das pessoas deve ser exactamente este, o de transformar o caos em cosmos, assim como Deus criou o cosmos a partir do caos.
Quantos de nós não estivemos tão próximos de desistir da vida diante do caos que cruza os nossos caminhos no dia-a-dia, desde a falta de emprego, a reprovação nos exames de admissão ao curso dos sonhos, perda de um ente querido ou até mesmo o fim de uma relação amorosa?
Somos todos convidados a fazer uma reflexão em torno destas palavras do Papa Francisco e perguntar para nós mesmos se queremos uma vida destilada que não sabe a nada, ou aprender a contornar as vicissitudes diárias, dando-nos as mãos para caminharmos juntos em busca de soluções para os nossos problemas.
Esse caminhar a que Francisco nos convida, para que nos levantemos uns aos outros sempre que algum de nós cair, treinandonos ao longo da caminhada, porque detrás de um golo há muito treino, detrás de um êxito há muito treino e na vida, não se pode fazer sempre o que se quer, mas sim aquilo que a vocação que temos dentro de nós nos leva a ser.
Finalizando, Francisco deixou o seguinte aos jovens: “Deixo-vos com esta ideia, caminhem, e se caírem, levantem-se. Caminhem com um objectivo, treinem-se todos os dias da vida.
Na vida nada é de graça, tudo se paga. Só há uma coisa de graça, o amor de Jesus.
Por isso, com esta oferta que temos, o amor de Jesus, e com o desejo e a vontade de caminhar, caminhemos na esperança. Olhemos para as nossas raízes, sem medo, não tenham medo!”
O Papa Francisco tem o condão de dizer o que lhe vem à alma no momento. Por isso mesmo, várias vezes deixou de lado o discurso formal escrito, para falar de improviso, exprimir o que sentia naquele instante, embora nalguns momentos alegasse incapacidade de fazer leitura.
Foi uma Jornada de muitos recados relacionados com a política, o ambiente, as desigualdades sociais, injustiças, o género e, por vários momentos, falou para dentro da própria Igreja Católica, sobretudo dirigindo-se àqueles que se acham no direito de julgar os outros, considerando-se os superiores legítimos que devem olhar os irmãos de cima para baixo, sem que para isso se predisponham a ajudá-los.
Por favor, se não for para ajudar, considere ilegítima a atitude de olhar o outro na posição de cima para baixo, afinal, “a única situação em que é legítimo olhar para uma pessoa de cima para baixo é para a ajudá-la a levantar-se.” Até o próximo encontro em Seul, em 2027!
Por: CARLOS MANECO