As línguas não morrem de facto, pois, entre outras razões, elas não são organismos biologicamente vivos e independentes.
A respeito disso, o linguista Whitney, citado por Marra e Milani (2013, pág. 133), esclarece que “As analogias estavam determinando a visão do pesquisador quando este chamava a língua de um organismo vivo que se desenvolve por si só, ou dizia que a Linguística é uma ciência física por causa da Zoologia e da Geologia”.
Mas Whitney não foi o único a pensar assim. Muitos outros linguistas utilizaram semelhante argumento quando trataram dessa questão. Andrade (2007, pág. 19), por exemplo, é um deles.
Para esse autor, “As línguas não são organismos vivos, que se desenvolvem e morrem. Não, a língua não é um organismo, não é uma vegetação que existe independentemente do homem, não tem vida própria que implique nascimento ou morte”.
Como se pode ler no parágrafo acima, por não haver vida nelas, as línguas não morrem de facto.
Por assim ser, declarar a sua morte só faz sentido no plano metafórico, e não no literal, como o fizeram vários linguistas naturalistas do tempo de Whitney.
Mas não é nossa intenção tratar aqui da semântica da morte, embora a explicação que acabámos de dar seja pertinente para o entendimento dos próximos parágrafos e para que se tenha mais ou menos noção daquilo que um povo perde quando a sua língua “morre”.
Por hora, olhemos, mais uma vez, para a falta de políticas linguísticas em Angola e para a influência que esse desastre tem na “morte” das línguas nacionais, bem como de tudo o que elas representam. Há, no nosso país, condições de sobra para que as línguas de origem africana “morram”.
Como se sabe, elas partilham o mesmo território com o Português, língua europeia, no entanto, esta tem sido a única privilegiada entre as demais, ocupando os espaços mais importantes, como já dissemos no artigo “As Línguas da Nossa Gente”, publicado no Jornal O País.
Essa tragédia visível em todo o território nacional acaba por colocar em causa as línguas nacionais, uma vez que não há, desde que se alcançou a independência, 1975, políticas linguísticas e educativas concretas que as coloquem no mesmo patamar. A grande “maka” nessa história toda é que uma língua nunca “morre” só.
Dito de outro modo, por ela ser o resultado das experiências colectivas de um grupo, a sua “morte” põe fim a um conjunto de manifestações artísticas, filosóficas, históricas, culturais, enfim, à vida de um grupo… ao seu imaginário colectivo.
Portanto, é imperioso que sejam criadas políticas linguísticas e educativas que impeçam esse terrorismo linguístico e cultural, porque, com base no que se disse acima, não é a língua em si mesma que sofre, já que ela, qual uma construção, depende do seu construtor para ter forma.
Os que realmente sofrem são os seus falantes, somos NÓS.
Por: Famoroso Jóse