Nesta terceira parte da série de artigos, abordaremos três temas fundamentais: “O argumento do excepcionalismo: a política é única”, “A desculpa ‘é assim mesmo’, é inaceitável” e “Uma melhor gestão dos recursos humanos traria múltiplos benefícios”.
A análise será apoiada pelo valioso contributo do livro “The Human Resource Management of Political Staffers” de Jennifer Lees-Marshment, e farei uma analogia com o contexto angolano.
O Argumento do Excepcionalismo: a Política é Única A política é frequentemente considerada um campo excepcional devido às suas características únicas, como a pressão constante, a necessidade de resposta rápida a crises e a exposição pública intensa. Este argumento é usado para justificar práticas de gestão de recursos humanos menos estruturadas e muitas vezes caóticas.
No entanto, cientistas políticos como B. Guy Peters e Patrick Dunleavy argumentam que, apesar da singularidade da política, os princípios fundamentais de gestão de recursos humanos ainda são aplicáveis e essenciais para garantir uma administração eficaz e sustentável.
Jennifer Lees-Marshment, no seu livro, destaca que a singularidade da política não deve ser uma desculpa para a falta de boas práticas de gestão. Pelo contrário, a complexidade e a pressão do ambiente político tornam ainda mais crucial a implementação de estratégias de gestão de recursos humanos robustas e adaptáveis.
A Desculpa “É Assim Mesmo” é Inaceitável A aceitação da ineficácia na gestão de recursos humanos sob a desculpa de que “é assim mesmo” no mundo da política é uma mentalidade prejudicial.
Esta atitude perpetua problemas como a sobrecarga de trabalho, a falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal e a insuficiência de formação adequada.
Estes problemas não são apenas inconvenientes, mas afectam directamente a capacidade dos funcionários políticos de desempenharem as suas funções de forma eficaz e ética. Cientistas políticos como Donald F. Kettl e Mark H. Moore têm enfatizado a necessidade de reformas estruturais na administração pública que incluam a gestão de recursos humanos.
A abordagem de Lees-Marshment reforça esta necessidade, sugerindo que a implementação de melhores práticas de GRH não só melhora o desempenho individual, mas também fortalece a confiança pública nas instituições políticas.
Uma Melhor Gestão dos Recursos Humanos Traria Múltiplos Benefícios A adopção de melhores práticas na gestão de recursos humanos dos funcionários e conselheiros políticos pode trazer inúmeros benefícios. Primeiramente, a redução da sobrecarga de trabalho e a melhoria do equilíbrio entre vida profissional e pessoal aumentariam a satisfação e a retenção dos funcionários.
Em segundo lugar, a oferta de formação contínua e orientação adequada garantiria que os funcionários estão bem preparados para enfrentar os desafios complexos do ambiente político. Além disso, uma gestão de recursos humanos mais eficaz promoveria um ambiente de trabalho mais saudável e colaborativo, reduzindo o stress e aumentando a produtividade.
No contexto angolano, onde a democracia está em desenvolvimento, a implementação destas práticas é ainda mais vital. Fortalecer a administração pública através de uma gestão eficaz de recursos humanos contribuirá para a estabilidade política e a confiança pública nas instituições governamentais.
Enquadramento e Exemplos No contexto angolano, é fundamental reconhecer a necessidade de reformar a gestão de recursos humanos para apoiar o crescimento democrático e económico.
Exemplos de boas práticas podem ser vistos em países como o Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, onde, apesar dos desafios, têm sido feitas tentativas significativas para melhorar a gestão de recursos humanos no sector político, como documentado por Lees-Marshment.
A nível académico, cientistas políticos como Robert D. Behn e James Q. Wilson também destacaram a importância de uma gestão eficiente de recursos humanos para a eficácia governamental.
Estas lições são extremamente relevantes para Angola, onde a aplicação de tais práticas pode transformar a administração pública e fortalecer a democracia.
Conclusão
A política, apesar da sua natureza única, não pode ser uma excepção à necessidade de uma gestão de recursos humanos eficaz. Abandonar a desculpa do “é assim mesmo” e implementar melhores práticas de GRH trará inúmeros benefícios, desde a satisfação dos funcionários até à eficácia governamental.
O contributo de Jennifer Lees-Marshment e outros académicos fornece um guia valioso para estas melhorias, que são essenciais não apenas para países desenvolvidos, mas também para contextos em desenvolvimento, como o de Angola.
Por: EDGAR LEANDRO