Nos primeiros anos de frequência da universidade, é possível perceber o que é realmente a extensão universitária (a acção da universidade junto à comunidade, possibilitando a partilha com o público externo do conhecimento adquirido por meio do ensino e da pesquisa desenvolvida na instituição) sem, necessariamente, ser um bom leitor ou pesquisador.
Tal actuação pode ser também considerada como acção social, termo introduzido por Max Webber, na sua obra póstuma “Economia e Sociedade” em reacção ao liberalismo europeu… (contos para outros rosários, como gosta de dizer o renomado jornalista angolano, Reginaldo Silva).
Para perceber até que ponto a extensão universitária pode ser considerada como uma acção social, basta olhar para o que é o conceito básico da mesma, “(…) qualquer acção que um sujeito realiza no meio social em que ele vive, devendo para tal, possuir sentido para quem a pratica”.
Aqui, facilmente pode perceberse que, a acção social está também ligada ao outro, enquanto pessoa, ou seja, ela tem como objectivo, uma intenção que é orientada para o outro.
Não é uma tarefa exclusiva das universidades, e nem gostaria de falar sobre o cumprimento ou incumprimento desta, a extensão universitária foi usada apenas como exemplo.
As outras organizações ou empresas também têm a mesma responsabilidade, no seu campo de actuação, independentemente dos seus objectivos, ali onde actuam. E, se as instituições privadas têm esta responsabilidade, o que falar das instituições públicas ou estatais, como por exemplo, uma Direcção da Acção Social? Penso que as suas acções vão além das que facilmente podem ser percebidas.
Sim, talvez seja isso mesmo, de forma subjectiva, diria, olhar para as questões pontuais do fórum psicossocial, ao nível da sua jurisdição e não só. Há dias, enquanto eu e um colega, também amigo, nos dirigíamos a uma casa, a fim de tomar o almoço, deparamo-nos com uma situação que nos chamou atenção e deixou-nos bastante comovidos, o caso da menina do bairro do Catondo, Comuna da Muxima, nas proximidades da vila com o mesmo nome.
– Sanjala, olha para esta menina! – disse. Aparentava ter três ou quatro anos, com ares de um à-vontade total, rastejava-se, pois é portadora de deficiência nos membros superiores e inferiores, o que dificulta a sua locomoção. A deficiência não nos pareceu ser congénita. Tentámos perceber, cogitando, mas sem sucesso.
Não nos ocorreu falar com ela porque percebemos que estaríamos a atrapalhar o seu objectivo, brincar, sendo que ia ao encontro de outros meninos que faziam o mesmo ao lado. Afinal, como disse um dia o sociólogo Laurindo Vieira (de feliz memória), numa das cadeias televisivas nacionais, “a função social das crianças é brincar”.
– Este é um caso da Direcção da Acção Social, meu – disse para o Sanjala, que concordou imediatamente. Penso que, falando com a Directora Municipal da Acção Social, podemos ter sucesso e ver a menina mais alegre ainda. E fiz do pensamento, uma responsabilidade a cumprir, por considerar que, muitas vezes, estes são aqueles casos que escapam da entidade de direito.
Como nem sempre é possível dar conta de tudo e às vezes a comunidade não colabora, a situação é vista como inexistente. – Provavelmente, se informarmos à Directora, teremos a intervenção da Administração e outros entes.
Com a idade que tem, esta menina pode ganhar uma cadeira de rodas e talvez uma operação para corrigir a deficiência – disse pra mim mesmo. Dias se passaram não via a Directora.
Certo dia, ao culminar da jornada laboral, encontrei-me com uma colega da Direcção Municipal da Acção Social e, lanceia o desafio de informar à Directora e fazer a devida intervenção.
O desafio foi aceite. A colega não hesitou, informou imediatamente no dia seguinte e reportou-me. A Direcção Municipal da Acção Social, Antigos Combatentes, Turismo, Cultura, Juventude e Desportos da Administração da Quiçama, agiu como esperávamos e, a Directora Love João, coadjuvada pelo Director Municipal da Saúde, Doutor Luís Domingos, sob orientação de Sua Excelência Senhora Administradora Municipal da Quiçama, Níria Marques, fez o trabalho de casa e a menina ganhou uma cadeira de rodas.
É algo extraordinário? Não, por se tratar de uma acção normal para as áreas de actuação daquela Direcção. Porém, agrada à comunidade, saber que o seu grito de socorro foi atendido, num conjunto de preocupações onde algumas escapam, devido à dinâmica social que se impõe. Vale aqui sublinhar este acto positivo.
Por isso, os meus parabéns! O desafio continua e, por intermédio deste escrito, certamente as outras acções hão-de surgir. Por isso, gostaria de lançar o mesmo repto para outros órgãos públicos do sector social e empresas privadas, no sentido de se prover mais condições para a menina que responde pelo nome de Delfina da Conceição Cavuquila “Délcia”, ou até mesmo uma cirurgia correctiva, para ter uma locomoção normal. Porque a união faz a força, é possível!
Por: VALENTINO FREDERICO
*Psicólogo Organizacional e do Trabalho