A mente se abre para mais uma jornada, um novo capítulo da vida. Dizemos, com certo grau de esperança, efusivamente, que o tempo dá resposta às questões, sobretudo àquelas de cujas incertezas são maiores. É como abandonar quase tudo à sorte, a um acaso.
É inexplicável! O meu estágio de inocência intelectual é parte extensiva da crise generalizada que vigora no país, acredito que sim. Também é verdade que estamos numa fase da história em que o acesso à informação/ ao conhecimento não é bicho-de-sete-cabeças.
Basta ter um telemóvel com acesso à internet. Não é menos evidente que a distracção hodierna é um mal a ser combatido. A leitura não faz parte da agenda de muitos jovens. Jovens estão preocupados com o hedonismo, é apenas uma suspeita.
Há crise de leitura—é um facto inegável—, embora haja quem leia constantemente, mas não supera o número dos que não lêem. Parece que frequentar a escola se tornou sinónimo de “estudar“, uma realidade que se mostra passível à reflexão, melhor dizer, há toda a necessidade de corrigir, tendo em conta a prática social da nossa circunscrição geográfica.
Há quem vá à escola todos os dias, no entanto não reúne o mínimo do que se espera, ter conhecimento sólido do curso que faz. Estar no curso de Língua Portuguesa, por exemplo, e não conhecer o sistema verbal; ser incapaz de produzir um texto com excelência e estilo, assim por diante, é um atestado de crise intelectual, cuja causa não é um assunto a ser discutido aqui.
“Criança não se mete no assunto dos mais velhos“— dizem os nossos sábios. Então, o silêncio em relação à questão é intencional. Não é um receio à censura, é um assunto doutro fórum. Aliás, ontem, celebrou-se mais um ano da independência conquistada em 1975.
A questão da independência traz à memória os intelectuais, pessoas que instigavam a revolução social e política. Significa que a crise intelectual resulta na “subjugação“, na pouca difusão do conhecimento libertador. Valete, um rapper português, dizia que o profundo estava nos livros.
Creio nisso, conquanto tenha apenas uma observação: não se trata de qualquer livro. Parece haver um modismo de escrever livros não autênticos, que não atiçam o intelecto. A leitura é, portanto, o meio pelo qual o indivíduo se pode ver livre da ignorância.
Diante dessa crise generalizada, é preciso que encontremos forças para contrapor a tendência que nos arrasta ao desconhecimento, não é fácil, também não é impossível.
Portanto, há crises que podemos superar, a de leitura, intelectual, é uma delas, apesar de a realidade social da nossa circunscrição geográfica se constituir como um grande obstáculo.
Por: MANUEL DOS SANTOS