A leitura remete a um processo de compreensão do mundo que envolve características cruciais e singulares do homem, levando a sua capacidade simbólica e de interacção com outra palavra de mediação marcada no contexto social.
Hodiernamente, é notório o número reduzido de pessoas envolvidas em leituras por razões atinentes ao momento em que se encontram as sociedades, incluindo a luta pelo sustento de cada família, a preguiça mental, bem como os preços avultados dos livros nos mercados formais e informais.
As famílias angolanas têm lutado incansavelmente pelos seus sustentos todos os dias, o que faz parte do homem enquanto dependente do seu suor para se poder alimentar e cobrir com as diversas despesas da vida.
Entretanto, essa luta diária tem contribuído, senão negativamente, na redução de leitores activos, aqueles que apresentavam o profundo prazer em ler todos os dias, a fim de aprimorarem as suas capacidades cognitivas, afectivas e psicomotoras.
As lutas diárias pelo sustento não nos podem, entretanto, afastar da prática de leitura, por mais que estejamos tão ocupados com as nossas actividades laborais.
Devemos ter a cultura de reservar um tempinho para o aprimoramento do nosso intelecto, não importando o número de parágrafos a serem lidos, desde que se faça uma leitura consciente e reflexiva para a compreensão dos fenómenos existentes à volta do homem em sociedade.
Ademais, um leitor incansável e consciente do seu papel nunca terá nada a perder, na medida em que a leitura vai contribuindo para outras dimensões da sua realidade social, académica política, económica e espiritual.
Em contrapartida, a realidade leitora de Angola não é ainda a esperada, pelo que se aconselha uma política de incentivo à leitura, assim como de venda de livros correspondente à realidade económica de cada indivíduo, para que se se aumente o número de leitores e, consequentemente, de escritores cientes das suas competências compositivas na resolução dos mais variados problemas da sociedade.
Ora, o gosto pelos livros não é coisa que apareça de repente na vida de cada cidadão, entretanto, é necessário ajudá-lo a descobrir o que eles lhe podem oferecer.
Cada livro pode trazer uma ideia inovadora à realidade do leitor, ajudando a fazer uma descoberta importante e ampliar o seu horizonte.
A par do exposto nos parágrafos anteriores, evidencia-se, também, uma perda de paixão pelos livros por parte da camada juvenil angolana devido à preguiça mental e à falta de poder económico, o que nos tem suscitado a diversas interpretações e questões atinentes a esta falta de tostões para as possíveis compras de livros, pois estes têm sido vendidos acima de mil kwanzas.
Um outro fator é o da falta de bibliotecas na maioria das escolas, sobretudo públicas, o que acaba, grosso modo, por influenciar no desincentivo à leitura e, em seguida, à escrita por parte dos indivíduos enquanto membros activos de uma sociedade cada vez mais dinâmica e disposta a inovações.
Do mesmo modo, se se pretende construir uma sociedade autónoma e competente na resolução dos problemas à sua realidade, devemos apostar seriamente na leitura, abrangendo todos os cidadãos de diferentes regiões e escalas sociais.
No entanto, a leitura deve ser vista como um conjunto de comportamentos que se regem por processos cognitivos contidos na memória do indivíduo, os quais emergem durante o contexto da sua actividade.
Sendo assim, a dimensão da leitura é, por sua vez, a de garantir a escrita como um bem cultural no processo de ampliação e compreensão do mundo que rodeiam os leitores de todas as sociedades.
Nesse âmbito, a leitura passa a ser um instrumento útil que nos aproxima da cultura letrada e permite continuar aprendendo autonomamente em uma multiplicidade de situações, sendo ainda um instrumento capaz de contribuir para a formação do cidadão consciente do seu papel na sociedade.
Por não se tratar de um acto instintivo, mas, pelo contrário, de um hábito a ser gradativamente adquirido e aprimorado, é fundamental que se dê ou reduza ao aprendiz da leitura o preço dos objetos a serem lidos (livros, revistas ou jornais), respeitando o seu nível de aprendizado.
Por: FELICIANO ANTÓNIO DE CASTRO
Professor de Língua Portuguesa