Usar a palavra escrita é das coisas interessantes do ser humano. Diz-se que escrever é arte reservada a quem se dedica à escrita, sobretudo o escritor, o cultor da palavra. Conhecer uma língua, é conhecer a sua gramática, diz uma estudiosa da língua, Irandé Antunes.
O conhecimento da língua dáse em dois momentos: implicitamente e explicitamente.
O primeiro momento, o conhecimento implícito, é inerente a todo usuário de uma língua materna, resulta do ambiente social no qual o falante está inserido.
Legou-nos Saussure que a língua é um produto/facto social, uma pertença da comunidade linguística. Daí o raciocínio segundo o qual o conhecimento implícito da língua do falante é uma herança social.
Este conhecimento implícito traduz-se em gramática implícita, o que permite ao indivíduo entender e falar a língua da sua comunidade.
O segundo momento, o conhecimento explícito da língua, resultado, sobretudo, do processo de escolarização do indivíduo. Conhecer a língua explicitamente significa conhecer o seu funcionamento ortográfico, fonológico/fonético, morfológico, sintáctico, etc.
Portanto, o conhecimento explícito da língua coincide, necessariamente, com aquilo que se chama consciência linguística. Importa referir que a abordagem é sobre o segundo momento, especificamente no âmbito sintáctico, a crase.
Define-se crase, aqui, como resultado da contracção da preposição “a” com o artigo definido feminino “a”, quer dizer «a+a=à».
A crase tem sido alvo de fornicação constante, quer seja dos estudantes assim como dos professores, jornalistas, políticos, etc., pessoas que em princípio têm uma formação que permite o conhecimento explícito da língua, sua prescrição.
«Comer a mão e comer à mão» podem parecer insignificantes aos olhos despedidos de conhecimento explícito da língua, mas não o é a quem pode ver claramente; assim como «lavar a mão/lavar à mão, desenhar a mão/desenhar à mão».
A crase faz a diferença, mudando a semântica dos exemplos. Torna-se constrangedor o mau uso que se faz dela (a crase), não é um mero enfeite da escrita, obedece a regras cujo conhecimento deveria ser extensivo a qualquer pessoa que produz textos.
O apelo desta abordagem parte da vontade de conservar a beleza dos textos, muitas vezes maculada pelo incumprimento das regras gramaticais da língua.
Portanto, é necessário que se conheça a língua explicitamente, ou seja, cultivar a consciência linguística e manusear a língua com maior liberdade.
Por: MANUEL DOS SANTOS