Há uma série de sacrifícios que nos acompanham diariamente. O sair e voltar está repleto de correrias que nos fazem ter a mesma resposta dos adversários do Benilão nas Batalhas dos Reis do Rompimento Primeira Liga RRPL, em que se lhes perguntam: “Você é quem?”
A resposta, de sempre, deixa claro que não somos ninguém face às correrias da vida.
Já agora, gosto deste gelofrio de Agosto e aposto que, diferente de outra época, os meus finos lençóis levezinhos que me ajudaram diante do clima infernal, o passado, não mais servissem para este gelofrio ou frigelo confundidor.
A mania da descoberta noturna me fugiu e como fugiu. No entanto, tenho de me preparar para mais um dia de correrias.
Cada dia é mais um neste ringue fatal. Levanto-me às quatro horas da manhã, esperando, apenas, ficar claro, em função dos donos do bairro que não deixariam a minha teimosia impune.
Estar mais forrado do que presentes e encomendas é o que me resta, a caminho da minha habitual paragem.
Uma música para fazer o trajecto ser menos cansativo e para evitar dar confiança aos vizinhos, sim, cada um por si é o que nós tem caracterizado.
Entre a pedonal e a minha velocidade furiosa, escolhi a mais rápida opção, colocando em evidência a possibilidade de ser atropelado.
A banga já me passou, aliás, é muito cedo para a multidão aqui presente, mas não sou o único com despesas e necessidades por suprir.
Para estar parado, nem se me devia perguntar sobre quem sou.
Seria, naturalmente, visível! Quando lá chego, oiço já as músicas da via como Stalagi-Padaria, Scongolenses de 100, mas eu preciso de ouvir Chopraite-Cuca ( Shoprite até parece outro lugar), mas a vida cá segue seguindo.
De repente, o telemóvel toca e, para o meu azar, é o chefe sublinhando os meus primeiros dez minutos de atraso, mais motivos para eu subir logo no próximo carro.
Assim, empurrei-me logo no primeiro Chopraite-Cuca, afinal, o tempo está a temporizador-se na velocidade mil. O piso, comprado numa pedonal, já sujou e empoeirado está.
O tal perfume já evaporou, eram, afinal, só dois minutos de cheirinho.
Já no táxi, as conversas eram de choros e risos. Até me tinha esquecido, por um tempo, que o abanar dos auriculares nos meus ouvidos tinha uma drástica explicação.
Quer dizer, o buba já sabalou naquele lenga-lenga para conseguir seguir viagem. Imaginava eu como o chefe estivesse ao, novamente, ligar para mim e não ser atendido ou, pior ainda, ser atendido pelo novo dono do telemóvel.
Nem uma mandioca gingumbada consegui empurrar. Cara na janela, reflexão é reflexão, mas não stragou nada.
Viver é só isso.
Os auriculares não ajudavam na tecla esquecer, assim, pela janela tomaram, também, o novo rumo. Que a vida é dura, eu já ouvia.
Que a vida é dura, estava a sentir. Que a vida segue, estava a precisar.
A reflexão sobre a insignificância estava a roubar-me a atenção, de tal maneira que passei a minha paragem.
Desci logo e pus-me a caminho do salo, afinal, tudo que tenho vem daquilo a que se tem dado nome de reconhecimento pós-laboral, dado que, para ser salário, precisa triplicar, no mínimo.
Depois de chegar ao trabalho, restava-me, apenas, esquecer tudo para estampar alegria no rosto, fingir que está tudo bem e atender melhor os clientes, afinal, trabalho é trabalho e a vida está a darme aquela resposta que se tem dado aos adversários do Benilão: “Eu não sou ninguém”.
Por: PEDRO JUSTINO “CABALMENTE
Professor e académico