Imagine um jogo de futebol em que o apito soa, mas o campo está marcado por buracos e inclinações. As equipas querem jogar, mas as condições não lhes permitem demonstrar todo o seu talento.
Esta imagem pode ser uma metáfora para o futebol em Angola, um desporto profundamente enraizado na cultura do país, mas que ainda enfrenta desafios que vão além das quatro linhas.
O futebol angolano, como em muitos outros países, não é apenas um jogo. Ele une comunidades, proporciona momentos de alegria e tem o potencial de ser uma ferramenta de desenvolvimento social.
No entanto, é impossível ignorar os contextos geográficos e económicos que influenciam a sua evolução. O trabalho do Ministério da Juventude e Desportos tem sido fundamental na promoção do desporto e na criação de oportunidades para os jovens, mas há ainda um longo caminho a percorrer para alcançar uma maior equidade e desenvolvimento sustentado no futebol.
A geografia de Angola, vasta e diversificada, oferece diferentes desafios para o desenvolvimento do desporto. Em Luanda, há infra-estruturas em crescimento, impulsionadas por projectos do governo e pelo sector privado.
Contudo, em áreas mais remotas, os campos de futebol são rudimentares e carecem de manutenção adequada. Esta disparidade entre o centro urbano e as zonas rurais cria um fosso que limita o acesso igualitário ao desporto e, por consequência, o desenvolvimento de talentos em todo o país.
Apesar dos esforços em curso, as assimetrias regionais continuam a marcar o futebol angolano. É de extrema importância reconhecer que, embora algumas províncias tenham feito avanços consideráveis, outras ainda estão longe de alcançar as condições ideais.
O trabalho do Ministério da Juventude e Desportos tem procurado responder a estas necessidades, mas as limitações orçamentais e logísticas tornam a tarefa desafiante.
Continuar a investir em infraestruturas desportivas será um passo essencial para garantir que o talento angolano possa florescer em todas as regiões, e não apenas nas principais cidades.
O contexto económico também desempenha um papel crucial no desenvolvimento do futebol. Angola é um país com grandes recursos naturais, mas a concentração de riqueza em determinados sectores faz com que nem todas as áreas beneficiem dos mesmos níveis de investimento.
Esta realidade reflecte-se no futebol, onde alguns clubes recebem patrocínios substanciais, enquanto outros lutam pela sobrevivência.
O Ministério tem sido um aliado importante na promoção de um maior equilíbrio, mas uma estratégia económica mais ampla, que envolva parceiros públicos e privados, será necessária para consolidar este progresso.
O crescimento do futebol angolano também passa por uma aposta forte no marketing e na comunicação desportiva.
Aqui, o papel do MINJUD tem sido determinante, ao promover uma maior visibilidade das equipas nacionais e ao apoiar as competições regionais e internacionais.
No entanto, a promoção do desporto deve ser acompanhada por uma narrativa que envolva todas as comunidades, incluindo as regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos.
Criar uma identidade nacional no futebol passa por envolver todas as províncias no processo, para que o desporto seja sentido como uma força de coesão.
Com o Mundial de Futsal de 2024 a decorrer, Angola obteve mais uma oportunidade de se posicionar no cenário desportivo internacional.
Este evento não só destaca o talento angolano, como também sublinha a importância de continuar a apostar na criação de condições para que o desporto se torne uma plataforma de mobilidade social e de orgulho nacional.
Como já foi destacado em obras como “O Futebol: Uma História Social”, de David Goldblatt, o futebol é um reflexo da sociedade.
Em Angola, o desporto tem demonstrado ser uma força unificadora, mas para que continue a sê-lo, é fundamental que se combata a desigualdade geográfica e económica de forma persistente.
Os esforços do Ministério da Juventude e Desportos para promover uma maior inclusão têm sido valiosos, mas um reforço das políticas públicas e uma maior participação do sector privado podem garantir que o futebol seja uma oportunidade acessível a todos, independentemente da região ou da classe social.
Assim, o caminho para o sucesso do futebol em Angola passa por um compromisso contínuo com o desenvolvimento equitativo das infra-estruturas e com a criação de uma estratégia económica que permita aos clubes de todo o país prosperar.
O que está em causa não é apenas a vitória nos campos, mas o impacto positivo que o desporto pode ter na sociedade angolana.
Em última instância, o futebol em Angola pode e deve ser uma ferramenta de inclusão e desenvolvimento. Com os passos certos, o País tem todas as condições para transformar a “bola furada” num símbolo de progresso e unidade, elevando o futebol a um novo patamar de crescimento e orgulho nacional.
O trabalho já realizado pelo MINJUD é um bom ponto de partida, mas o esforço colectivo de todas as partes envolvidas será essencial para que o futebol se torne verdadeiramente uma força transformadora em Angola.
Por: EDGAR LEANDRO