No crepúsculo do dia 2 de Dezembro, às 18h04, o Air Force One pousava no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro. O horizonte angolano, tingido pelos tons do entardecer, testemunhava um momento singular: a descida de um presidente americano ao solo de Agostinho Neto.
Durante 28 minutos, o mundo esperou, quase suspenso, enquanto Joe Biden permanecia no interior do avião. Quando, enfim, surgiu na escada presidencial, cada passo parecia carregar o peso de promessas feitas um ano antes, agora cumpridas.
A história, naquele instante, encontrou-se com a oportunidade. Angola, a poucos meses de comemorar 50 anos de independência, recebe Biden como quem acolhe um parceiro no início de uma jornada esperançosa. Este momento, mais do que um gesto diplomático, reflecte o papel crescente do país na geopolítica global, um reflexo de décadas de resiliência e transformação.
Mas, como em todos os eventos que prometem mudança, a verdadeira questão permanece: como transformar o simbolismo desta visita em progresso real e tangível para os angolanos? Os 28 minutos que Biden levou para sair do avião e os 40 minutos de conversas no aeroporto não foram apenas protocolos; foram momentos em que o tempo ganhou densidade, carregado de intenções e compromissos. Biden não veio apenas para apertar mãos, mas para abrir portas em áreas cruciais como saúde, segurança alimentar, tecnologia e infra-estruturas.
Cada palavra trocada no aeroporto parecia ecoar com a promessa de colaboração, mas também com o aviso implícito de que a história julga pelas acções, não pelos discursos.
Para Angola, o impacto desta visita não se mede em minutos, mas nos frutos que ela poderá gerar. Este é o momento de plantar sementes em solo fértil e de garantir que cada promessa se torne realidade, que cada parceria respeite a soberania nacional e que cada investimento beneficie o povo. A promessa de Biden, feita em Dezembro de 2023, cumpriu-se um ano depois.
Esse intervalo não é mero calendário; é um testemunho de paciência estratégica, daquilo que pode ser construído quando as palavras ganham substância. Angola, com 49 anos de independência, está agora num ponto de inflexão, onde o presente se torna um portal para o próximo meio século.
O Corredor do Lobito, um dos principais temas da visita, simboliza o potencial de Angola para liderar não apenas a exportação de recursos, mas também a integração regional.
Esta rota ferroviária é mais do que um trilho de exportação; é uma veia pulsante que pode carregar oportunidades para as comunidades que toca. Como dizia Kwame Nkrumah, “o futuro de África depende de como controlamos as nossas riquezas.” Este corredor deve ser uma ponte para um futuro inclusivo, um motor de empregos, inovação e prosperidade local.
O pouso do Air Force One ocorre num momento de reflexão para Angola. Quase meio século depois da luta pela independência, o País encontra-se num novo capítulo. Desde os dias em que Agostinho Neto liderou o grito de liberdade até à reconstrução pós-guerra e às aberturas económicas recentes, Angola atravessou desafios monumentais.
E, no entanto, continua de pé, resiliente, pronta para sonhar novamente. Biden não veio apenas para reconhecer esse caminho; ele trouxe consigo o peso de parcerias que podem acelerar a transição de Angola para uma nação de referência em África.
Mas, como dizia José Eduardo dos Santos, “uma nação independente só é verdadeiramente livre quando controla o seu futuro económico.” Este é o momento de Angola reafirmar que a sua soberania, política e económica, é inegociável.
Com mais de 78% da população abaixo dos 35 anos, Angola é um país jovem. A energia e o potencial da sua juventude são a chave para o futuro. Como lembrava Nelson Mandela, “a juventude não é um peso; é a força motriz do futuro.”
Os compromissos firmados durante esta visita devem traduzir-se em oportunidades concretas para os jovens: educação de qualidade, formação técnica, acesso ao empreendedorismo e ferramentas para liderarem sectores emergentes como tecnologia e energia limpa. Esta geração, nascida após as grandes guerras do passado, é quem carregará Angola para o futuro.
Cada investimento, cada política e cada projecto devem ter como objectivo empoderar esta juventude, transformando-a na vanguarda de um progresso inclusivo e sustentável. A descida de Joe Biden do avião presidencial não foi apenas um gesto; foi o início de uma nova etapa para Angola. João Lourenço, ao falar sobre o futuro do País, lembrou:
“O progresso de Angola está nas mãos dos próprios angolanos. Cabe-nos garantir que cada parceria contribua para o desenvolvimento e que o nosso povo seja sempre o centro de cada decisão.” Este é o momento de transformar o simbolismo em acção, as intenções em realidade e as palavras em progresso.
Aos 49 anos de independência, Angola está pronta para traçar um caminho novo, com coragem, dignidade e uma visão clara do seu lugar no mundo. Que os próximos anos continuem a ser marcados por parcerias que respeitem a soberania angolana, por investimentos que elevem a juventude e por políticas que levem Angola a um novo patamar de desenvolvimento.
A visita de Biden não é apenas um evento histórico; é uma chamada para que Angola e África redefinam o seu papel no mundo. Os 28 minutos de espera, os 40 minutos de conversas e o ano de promessa cumprida são apenas o prelúdio de uma história que Angola está pronta para escrever. E que esta história seja, acima de tudo, uma história de esperança, progresso e orgulho nacional.
A visita de Joe Biden oferece uma oportunidade única para que Angola reafirme a sua soberania e posicione o seu papel como líder regional e global. No entanto, o futuro não será construído apenas por promessas ou simbolismos.
Este é o momento de todos os angolanos – jovens, líderes políticos, empresários e cidadãos – unirem esforços para transformar intenções em acções concretas.
É hora de investir no potencial humano, diversificar a economia e garantir que cada recurso do País seja usado para o bem-estar da população. A história não se escreve sozinha. Cabe a cada um de nós, enquanto cidadãos desta terra resiliente, participar activamente na construção de um futuro onde Angola seja reconhecida não apenas pela sua riqueza, mas pela prosperidade do seu povo.
Que cada jovem angolano se veja como um arquitecto deste novo capítulo, que cada líder governe com responsabilidade e visão, e que cada parceiro internacional respeite a nossa dignidade e soberania.
Agora é o momento de Angola mostrar ao mundo que, com coragem, união e determinação, está pronta para assumir o seu lugar no cenário global – como uma nação de orgulho, progresso e esperança.
Por: Edgar Leandro