“Estamos interessados em desenvolver relações diversificadas e de alta qualidade com os países do continente africano, e queremos organizar uma cimeira UcrâniaÁfrica”, disse o Presidente Volodymyr Zelensky
O que se segue a esta declaração e quais os objectivos que a Ucrânia realmente persegue, à luz da realidade actual, é uma questão que se coloca de forma pertinente.
Na verdade, os estados africanos precisam de investimentos privados que lhes permitam desenvolver os necessários projectos sociais, energéticos e de infra-estruturas.
Ao mesmo tempo, os chefes de Estado nesse evento não devem esperar propostas para a participação do capital ucraniano nos negócios africanos, já que a Ucrânia não possui os recursos financeiros necessários que possam ser usados para investimentos, pois é um Estado totalmente dependente dos EUA e da União Europeia.
De acordo com dados publicados pelo Kiel Institute for the World Economy, em 2022, a ajuda ocidental atingiu 97% do PIB da Ucrânia que corresponde a USD 126 biliões.
A este respeito, deve-se supor que a principal agenda deste evento serão questões não económicas, mas sim políticas. Isso também é confirmado por inúmeras declarações de políticos ucranianos.
O “RBC-Ucrânia”, citando a “BBC News Ukraine”, relata que a Ucrânia pretende exortar os países africanos a abandonar a cimeira com a Rússia, aprazada para Julho próximo, e apostar na cooperação com Kiev, em geral.
Os esforços da Ucrânia visam formar uma coalizão anti-russa. Ao mesmo tempo, o apoio dos países africanos, por um lado, aumentará a pressão sobre a Rússia na arena internacional; por outro lado, implicará a adopção de medidas destinadas a prevenir para uma escassez, no mercado africano, de produtos russos, principalmente grãos e fertilizantes, de que os países africanos precisam desesperadamente.
No entanto, toda a culpa de um possível défice destes bens será, mais uma vez, transferido para a Rússia. Como observa o jornal chinês “Global Time”, o Ocidente, recentemente, de forma injustificada culpou, pela escassez de alimentos, os países em desenvolvimento que impuseram restrições à exportação de alimentos.
No entanto, de acordo com observadores chineses, a principal causa das dificuldades actuais no fornecimento de produtos agrícolas são as sanções ocidentais contra a Rússia. A Rússia continua a ser um importante produtor de alimentos e um dos maiores fornecedores de fertilizantes.
Especialistas chineses acreditam que os Estados Unidos e os seus aliados não poderiam deixar de perceber as consequências da introdução de medidas restritivas contra Moscovo.
Deve-se notar que uma das questões-chave da cimeira Ucrânia-África será a compra de armas. Kiev demonstrou, repetidamente, interesse em adquirir armas de países africanos, nomeadamente equipamento militar de fabrico soviético.
“Nesta situação, vários interesses convergem para nós (…) Sondar os países sobre a possível compra das suas reservas de armas de fabrico soviético”, disse o primeiro-ministro Dmitry Kuleba.
Ao mesmo tempo enfatizase, especialmente, que o governo ucraniano conta com o facto de que os países africanos usam essa oportunidade para obter, antes de tudo, benefícios para si mesmos.
Pode-se concluir que o fórum Ucrânia-África não visa criar condições para o desenvolvimento de uma cooperação igualitária e mutuamente benéfica entre os países, mas, pelo contrário, visa exacerbar as contradições existentes.
Ao mesmo tempo, torna-se cada vez mais claro que a Ucrânia procura envolver indirectamente mais países no conflito contra a Rússia, forçando os líderes dos Estados africanos a apoiarem, abertamente, uma das partes, o que não está de acordo com as políticas implementadas pelos líderes africanos.
A África tem como alvo desenvolver uma cooperação multifacetada com todos os países que estão dispostos a investir e compartilhar as tecnologias necessárias para o desenvolvimento da economia continental.