O secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, considera que a controversa substituição de Valerii Zaluzhnyi no comando das Forças Armadas é uma resposta a novos desafios, no objectivo intacto de vencer a Rússia
Em entrevista à Lusa, o alto responsável da instituição ucraniana, além da substituição de Zaluzhnyi, que abalou a política interna do país, também abordou a frente diplomática externa, afirmando que seria “uma injustiça” os países-membros da NATO não assumirem uma posição clara em relação à adesão da Ucrânia na próxima cimeira da Aliança, a decorrer este ano em Washington.
Para Oleksiy Danilov, a saída do líder militar, que mantinha grande popularidade e que foi criticada por vários sectores da oposição, deve ser enquadrada por uma fase em que surgem “novos desafios e novas tarefas” colocadas pela invasão russa, iniciada há quase dois anos, em 24 de Fevereiro do ano passado.
Zaluzhny foi afastado, na Quinta-feira, após semanas de rumores sobre a sua saída, tendo sido designado como seu sucessor Oleksandr Syrsky, até agora comandante do Exército.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, saudou o trabalho do general Zaluzhny e propôs que permanecesse na sua equipa: “Falámos das alterações que são necessárias nas Forças Armadas.
Discutimos o que poderá ocorrer com um comando renovado das Forças Armadas da Ucrânia. Este é o momento da renovação”, justificou.
Instado pela Lusa a comentar se esta substituição seria compreendida pelo povo ucraniano e pelos parceiros de Kiev, o secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional respondeu: “Todos os dias a vida dá-nos novos desafios, novas tarefas, novas coisas inesperadas e deve-se compreendê-las. A vida continua e temos de defender o nosso país. Essa é a tarefa principal”.
Após a demissão, Zelensky conferiu a Zhaluzhny a condecoração de “Herói da Ucrânia”, a mais alta distinção do país, o que, segundo Danilov, não deve ser visto como “qualquer tipo de incoerência”, antes pelo contrário: “Somos todos ucranianos, e todos nós temos uma tarefa a cumprir.
Precisamos vencer a Rússia nesta guerra terrível e esta vitória será alcançada de certeza”.
O responsável da instituição ucraniana pede que se espere que o novo comandante das Forças Armadas apresente a sua estratégia, afirmando que ignora se terá modificações em relação à actual.
“Terá seguramente uma estratégia, mas não lhe podemos chamar nova ou velha. Será diferente do comando anterior? Não sabemos. Precisamos esperar que o general Syrsky comunique o seu plano ao Presidente e ao seu comando militar e logo saberemos”, limitou-se a observar Oleksiy Danilov.
O secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional falou, igualmente, de outro assunto sensível no domínio interno ucraniano, a lei da mobilização militar, destinada a permitir ao Exército reabastecer as fileiras após dois anos de invasão russa, e cuja primeira leitura foi aprovada na semana passada pelo parlamento.
“Pensamos que esta lei deve ser uma questão de justiça. As pessoas têm de perceber o que é a mobilização e o que é a desmobilização.
Quais são as condições do serviço”, sustentou Danilov, que espera agora que a segunda leitura melhore a lei “numa língua que todos entendam”.
O documento votado pretende simplificar os procedimentos de inscrição no Exército e introduzir sanções para quem resistir à mobilização, que devem ser aprovadas por um tribunal.
Contudo, segundo os críticos, isso não resolve o problema da desmobilização daqueles que estão na frente há muito tempo e o provedor dos Direitos Humanos, Dmytro Lubinets, já avisou que o documento contém “disposições contraditórias” que podem violar a Constituição nacional. Volodymyr Zelensky admitiu, em Dezembro, que o Exército precisa de mobilizar até 500 mil elementos adicionais.
Noutro passo, o Presidente ucraniano aprovou uma lei que constitui um ramo separado nas forças armadas dedicado a ‘drones’, que têm tido uma utilização em grande escala nos dois lados em conflito, antecipando a criação de uma estrutura que, de acordo com o secretário do Conselho de Defesa e Segurança, existirá em todos os exércitos.
“Através da experiência da nossa guerra, todos os membros da NATO estão a aprender a utilização de ‘drones’ e como explorála.”, indicou Danilov, sendo este mais um passo no alinhamento entre as forças de Kiev e da Aliança Atlântica, que terá uma cimeira em Washington, este ano, na qual a adesão da Ucrânia será um dos temas principais.
“Queremos ter uma posição clara sobre isto: o nosso país já provou que deve fazer parte da aliança e, se acontecer de outro modo, será uma injustiça para o nosso povo, para o nosso país e em relação a tudo o que está a acontecer neste momento”, comentou.
O Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia é um órgão de coordenação que funciona sob o comando do Presidente Volodymyr Zelensky.
A instituição coordena e supervisiona as actividades dos órgãos do poder executivo na esfera da segurança e defesa nacional.