A assinalar os 50 anos do rei e da Independência, país passa a chamar-se eSwatini, enfrentando o legado do colonialismo. Uma mudança que já ocorreu noutras partes do mundo
O rei Mswati III, líder da Suazilândia desde 1986, anunciou na data do seu 50.º aniversário, no dia 19, que o país passa a ter como nome oficial Reino dos Suazis (eSwatini, na língua local). A decisão foi apresentada como um regresso às origens – a designação adoptada era a do território antes da chegada dos britânicos – e por que, segundo o monarca, a Suazilândia é frequentemente confundida com a Suíça, quando referida em inglês: “Swaziland”, no primeiro caso, “Switzerland”, no segundo!
O anúncio sucede no ano em que este país da África oriental e antiga colónia britânica, rodeado pela África do Sul e fronteiriço com Moçambique, irá assinalar o 50.º aniversário da Independência, a 6 de Setembro.
A decisão de Mswati III – muito criticado pelas organizações de direitos humanos ocidentais que o acusam de ter um estilo de vida faustoso a contrastar com a pobreza generalizada de um país cuja economia cresce abaixo da média regional – não é, propriamente, uma novidade.
No passado, o rei utilizou a fórmula Reino dos Suazis, em especial, quando interveio em conferências no estrangeiro e também o fez em discursos como o proferido na Assembleia Geral da ONU, em 2017, e em diferentes reuniões da União Africana, recordou a Reuters na altura do anúncio.
Então, Mswati III sublinhou que os “países africanos, após a Independência, voltaram aos nomes de origem, antes do colonialismo”. Para Mswati III, a “Suazilândia foi o único a manter o nome da época colonial. Mas a partir de agora, isso vai mudar.
Passa a chamar-se Reino dos Suazis”, disse o rei, que falava numa cerimónia na segunda cidade do país, Manzini, perante um estádio de futebol repleto de compatriotas envergando, como ele, os trajes tradicionais deste grupo da etnia bantu. Uma das heranças da era colonial – europeia mas também árabe, em certas regiões de África – foi a adulteração dos nomes indígenas dos locais ou a criação de novos topónimos.
Um caso clássico é o das Cataratas de Vitória, assim baptizadas pelo britânico David Livingstone (1813-1873), mesmo sabendo, como regista no diário da viagem, que as que das de água eram designadas pelos locais como “mosi-oa-tunya”, expressão que traduz por “neblina trovejante”. Prática estendida a todo o continente africano.
Alguns exemplos: Rodésia, hoje Zimbabwe, Costa do Ouro, hoje Gana, Leopoldville, hoje Kinshasa, República Malgache, actual Madagáscar, Alto Volta, actual Burkina Faso, Nova Lisboa, actual Huambo.
Ou ainda Guiné Equatorial por Guiné Espanhola, Benim por Daomé ou, noutro plano, em que questões internas e regionais se somam ao passado colonialista, o Congo Belga, sucessivamente Estado Livre do Congo, Congo- Kinshasa, República do Congo, República Democrática do Congo (RDC), Zaire e de novo, desde 1977, RDC.
A herança da era colonial ultrapassa a África e estende-se à Ásia e à Austrália, aqui com múltiplos exemplos de corrupção da pronúncia aborígene ou ao baptismo de localidades e sítios com óbvia conotação racista e pejorativa para as populações autóctones. Novos ciclos e o fim da URSS Os ventos da descolonização não são o único factor de mudan-ça na designação dos países.
A desagregação da União Soviética, mudanças de regime e projectos ideológicos produziram também alterações neste domínio. Desde logo, na América do Sul, a República Bolivariana da Venezuela, que ganha este nome com Hugo Chávez em 1999 e, na Ásia, a Pérsia que se torna República Islâmica do Irão, com a queda de Reza Pahlavi em 1979.
Exemplos evidentes de como a ideologia determina as designações oficiais. Ainda nas Américas, no registo da herança colonial, as possessões das Honduras Britânicas e da Guiana Holandesa, tornam-se, respetivamente, o Belize e o Suriname.
Outro fruto do peso ideológico, o Reino do Camboja passa a designar- se Campuchea Democrático, sob os khmers vermelhos entre 1975 e 1979, República Popular do Campuchea e, de novo, Reino do Camboja, desde 1993. Também na Ásia, em ruptura com o passado colonial, o Ceilão torna-se Sri Lanka e a Birmânia (a Burma do império britânico) assume a designação de República da União de Myanmar.
Fruto de tensões geoestratégicas, o Paquistão Oriental rompe com o Paquistão e, na hora da Independência, torna-se Bangladesh. E que dizer da separação (amigável) da Checoslováquia, que deu origem à Chéquia e à Eslováquia e da separação (violenta) da Jugoslávia, com o surgimento de novos países, como a Bósnia ou a Eslovénia, ou o regresso da Sérvia ou da Croácia?
A reconfiguração de fronteiras e de designações oficiais marcaram a desagregação da URSS e o fim da Guerra Fria, com a Bielorrússia a tornar-se Belarus, a Moldávia a chamar-se Moldova e na Federação Russa a Chechénia-Ingúchia a ser separada em entidades distintas.
O que não resolveu todos os problemas do Cáucaso nem mudou a sua identidade. Como o novo nome da Suazilândia não irá resolver, por si só, os problemas do reino de Mswati III. Fonte: DIÁRIO DE NOTÍCIAS