O ex-Presidente francês Nicolas Sarkozy foi indiciado Quarta-feira, 21, pelo suposto financiamento ilegal de sua campanha presidencial em 2007 com dinheiro do regime líbio, na época governado por Muammar Kadhafi, informaram à AFP fontes próximas à investigação.
Sarkozy, de 63 anos, é acusado de “corrupção passiva”, “financiamento ilícito de campanha eleitoral” e “acobertamento de fundos públicos líbios” e foi submetido a controlo judicial, informou a fonte. O ex-Presidente conservador, que nega todas as acusações, foi libertado e voltou para casa, após ter sido interrogado ao longo de dois dias no Escritório Central de Luta contra a Corrupção e as Infrações Financeiras e Fiscais (OCLCIFF) de Nanterre, nos arredores de Paris. O ex-Presidente (2007-2012) tinha sido detido na manhã de Terça- feira e foi interrogado durante 26 horas, com apenas uma pausa para dormir em casa na noite de Terça para Quarta.
A Justiça francesa abriu uma investigação judicial em 2013, depois de, um ano antes, o portal de investigações Mediapart revelar um documento do ex-chefe dos serviços de Inteligência líbios, segundo o qual o regime de Muammar Kadhafi aceitou financiar com 50 milhões de euros (62 milhões de dólares) a campanha presidencial de 2007 de Sarkozy. Este caso é o escândalo de financiamento político mais explosivo da França e uma das várias investigações legais que perseguem Sarkozy desde que deixou a Presidência em 2012. Brice Hortefeux, um político ligado a Nicolas Sarkozy e que foi seu ministro do Interior, também foi interrogado na Terça-feira até o fim da noite, mas não foi detido. “Estou a depor numa audiência livre. As explicações permitirão encerrar uma sucessão de erros e mentiras”, escreveu no Twitter.
Malas de dinheiro em espécie
As suspeitas sobre Sarkozy baseiam- se em testemunhos e operações obscuras, mas os juízes que investigam este caso há cinco anos ainda não obtiveram qualquer prova. Em Março de 2011, quando a França acabava de reconhecer a oposição do regime líbio como único interlocutor, o filho de Kadhafi, Seif al Islam, fez a primeira acusação: “Sarkozy deve devolver o dinheiro!”, disse, sem a apresentação de provas. “Desde 11 de Março de 2011, eu vivo o inferno desta calúnia”, disse Sarkozy, que também denunciou a falta de “provas materiais” nas acusações contra si, segundo a declaração reproduzida no site do jornal “Le Figaro”. Sarkozy disse que foi “acusado sem qualquer evidência material” pelas declarações do ex-ditador líbio Muammar Kadafi e seus parentes, bem como pelo franco-libanês Ziad Takieddine. “
Tem sido provado em muitas ocasiões que ele (Ziad Takieddine) recebeu dinheiro do Estado líbio”, disse Sarkozy. E acrescenta: “sobre o senhor Takieddine, gostaria de lembrar que ele não prova, nesse período de 2005-2011, qualquer encontro comigo”. “Durante as 24 horas da minha custódia, eu tentei com toda a força da convicção que é a minha mostrar que as indicações sérias e concordantes que são a condição da acusação não existiam, tendo em conta a fragilidade do documento que foi objecto de um inquérito judicial e as características altamente suspeitas do passado altamente carregado do senhor Takieddine”. “Os factos de que sou suspeito são sérios, eu estou ciente disso, mas, como eu continuo a defender com toda a convicção, se é uma manipulação do ditador Kadafi ou dos seus seguidores (…) então eu peço aos magistrados que meçam a profundidade, a gravidade e a violência da injustiça que seria cometida contra mim”, acrescentou.