O Kremlin prometeu ontem Quinta-feira, 15, uma resposta rápida à decisão “absolutamente irresponsável” de Londres de expulsar diplomatas russos para como punição pelo envenenamento de um ex-agente russo duplo na Inglaterra..
Desde a hospitalização, em 4 de Março, do ex-espião Serguei Skripal e de sua filha Yulia, a tensão entre Moscovo e Londres tem aumentado constantemente, exacerbando as relações já dramáticas, e reforçando o clima de nova Guerra Fria entre a Rússia e o Ocidente, a poucos dias da eleição presidencial russa no Domingo e a três meses da Copa do Mundo de Futebol. Após vários dias de acusações recíprocas, Quarta-feira, Londres adoptou medidas.
A primeira- ministra britânica, Theresa May, anunciou a expulsão de 23 diplomatas russos e o congelamento dos contactos bilaterais com a Rússia, a qual ela declarou “culpada” do envenenamento em Salisbury, Inglaterra. “A posição do lado britânico parece absolutamente irresponsável”, declarou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. As medidas de resposta “naturalmente não se tardarão”. “A decisão será tomada pelo presidente (…) e não há dúvida de que ele escolherá a versão que melhor atenda aos interesses da Rússia”, disse Peskov. O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, assegurou que Moscovo expulsaria “obrigatoriamente” diplomatas britânicos, mas que o conteúdo da resposta russa seria comunicado a Londres antes de ser tornada pública.
‘Nenhuma relação’
A Rússia dispunha até agora de 59 diplomatas credenciados no Reino Unido. Os 23 diplomatas considerados por Londres como “agentes de Inteligência não declarados” terão “uma semana” para deixar o território britânico. No entanto, “não é do nosso interesse nacional cortar todo o diálogo”, indicou Theresa May, acrescentando que Londres não enviaria nenhum representante, diplomata ou membro da família Real à Copa do Mundo de futebol na Rússia.Para os analistas, as sanções britânicas mantêm-se nesta fase bastante moderadas. Serguei Skripal, de 66 anos, e sua filha Yulia, de 33 anos, foram vítimas de um ataque com um agente neurotóxico militar de fabricação russa, segundo as autoridades britânicas.
Os dois continuam hospitalizados e “em estado grave”. “O lado russo não tem nada a ver com o incidente ocorrido em Salisbury”, afirmou Peskov, esta Quinta-feira. Como os Estados Unidos no dia anterior, a França indicou, esta Quinta-feira, que “compartilha a avaliação do Reino Unido” sobre a responsabilidade de Moscovo. O presidente Emmanuel Macron informou que anunciará, “nos próximos dias”, as medidas que pretende tomar no caso. Ele voltou a condenar esse ataque “nos mais duros termos”, um acto em que “tudo leva a crer que a responsabilidade seja da Rússia”. Já Moscovo insiste em que vai cooperar apenas se tiver acesso à uma amostra da substância em questão, identificada por Londres como um agente “Novitchok”, concebido no final da URSS.
EUA ‘solidários’
May evocou no Parlamento “um uso ilegal da força pelo Estado russo contra o Reino Unido”. Ela considerou “trágico o caminho escolhido” pelo presidente Vladimir Putin, que não respondeu ao seu pedido de explicações sobre o caso. Na BBC, esta Quinta-feira, o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, acusou a Rússia de “ir muito longe na direcção errada”: “A Rússia está neste momento num caminho revanchista. Putin é o fantasma de Stalin. Ele olha ao redor de si e vê a OTAN nas fronteiras do que era a União Soviética. É por isso que causa problemas”, considerou. O ministro britânico da Defesa, Gavin Williamson, anunciou um investimento de 48 milhões de libras (cerca de 54 milhões de euros) para fortalecer as capacidades de defesa contra armas químicas. “Nós investimos 48 milhões de libras num novo centro de defesa contra as armas químicas para manter nosso avanço em matéria de análises químicas e de defesa”, declarou Williamson, num discurso feito perto de Bristol, na zona oeste da Inglaterra.