A Rússia acusou os serviços especiais britânicos e americanos, esta Quarta-feira, 4, pelo envenenamento do ex-agente duplo russo Serguei Skripal e propôs diálogo aos países ocidentais, e não represálias, para evitar uma nova crise como a dos mísseis em Cuba.
Acusada pelos países ocidentais, a Rússia convocou uma reunião da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), em Haia, para exigir respostas sobre as acusações. O presidente Vladimir Putin, que alegou uma “campanha contra a Rússia”, disse esperar que a reunião da Opaq “permita colocar um ponto final” ao caso, que provocou a crise diplomática mais grave entre o Ocidente e o Oriente desde a Guerra Fria e resultou na expulsão de quase 300 diplomatas entre as duas partes. O Reino Unido apontou a Rússia como responsável pelo ataque cometido no início de Março em Salisbury, Sul da Inglaterra, para envenenar Serguei Skripal, exagente duplo que trabalhou para os serviços secretos britânicos, e a sua filha Yulia. Moscovo rejeita as acusações.
Esta Quarta-feira, o governo russo exigiu que o Reino Unido apresente um pedido de desculpas, após o laboratório britânico que analisou o agente químico utilizado para envenenar Skripal admitir não ter provas de que a substância procede da Rússia. Ao mesmo tempo, o director dos serviços de Inteligência Externa da Rússia, Serguei Naryshkin, chamou o caso Skripal de “provocação grotesca” dos serviços especiais britânicos e americanos. “É necessário acabar com este jogo irresponsável que consiste em ir aumentando as apostas e renunciar ao uso da força nas relações internacionais, para não levar a situação a uma segunda crise dos mísseis de Cuba”, declarou Naryshkin. No início da semana, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, já havia afirmado que o envenenamento “poderia ser do interesse do governo britânico” como forma de desviar a atenção da opinião pública dos problemas do Brexit.
Táctica diversionista
Moscovo esperava esclarecimentos sobre as acusações britânicas durante a reunião de 41 membros da Opaq, num edifício de Haia cercado por grandes medidas de segurança. Londres solicitou à Opaq que comprovasse a análise do governo britânico. Os especialistas da organização viajaram para o Reino Unido para obter amostras da substância utilizada no envenenamento, que serão examinadas em laboratórios internacionais independentes. Mas a delegação britânica chamou de “perversa” a proposta russa de uma investigação conjunta sobre o envenenamento de Skripal, apresentada durante a reunião extraordinária da Opaq. “A proposta russa de uma investigação conjunta sobre o incidente de Salisbury é perversa”, escreveu a delegação britânica no Twitter. “É uma táctica diversionista e de desinformação para evitar as questões que as autoridades russas devem responder”, completa a mensagem. Terça-feira, o chefe do laboratório militar britânico de Porton Down, Gary Aitkenhead, afirmou que não foi possível determinar que o agente neurotóxico usado para envenenar o exespião russo proceda da Rússia.
“Fomos capazes de identificar que se trata de Novichok, um agente neurotóxico de tipo militar”, afirmou. Ele considerou, no entanto, que a fabricação exigia “métodos extremamente complexos, algo que apenas um actor estatal teria a capacidade (de fazer)”. Putin rebateu, alegando que esta substância poderia ser produzida em “20 países do mundo”. Sergueï Skripal, de 66 anos, e a sua filha Yulia, de 33, permanecem hospitalizados. O estado de Yulia melhora rapidamente, que já não se encontra em condição crítica, ao contrário do pai que permanece em estado grave, mas “estável”, segundo o hospital. Ex-coronel do Serviço de Informação do Exército (GRU), Skripal foi condenado na Rússia por “alta traição”, antes de ser objecto de uma troca de espiões em 2010. Desde então, reside no Reino Unido.