Uma briga sobre liberdade de imprensa e a recusa de Giorgia Meloni em apoiar Ursula von der Leyen para um segundo mandato no comando da Comissão Europeia expuseram rachaduras no relacionamento da primeira-ministra italiana com Bruxelas
De acordo com o Financial Times (FT), a premiê italiana Giorgia Meloni forjou laços com a liderança da União Europeia (UE), desafiando as expectativas anteriores de analistas e amenizando a sua retórica eurocéptica, mantendo os investidores felizes no momento em que as contas públicas italianas ainda permanecem frágeis.
Von der Leyen, na busca por apoio dos líderes da UE para permanecer no cargo, abordou Meloni dando suporte à sua visão sobre a questão migratória e concordou em mudar alguns dos planos de gastos originais para a parcela de € 200 biliões da Itália nos fundos de recuperação do bloco. Mas esta relação parece estar estremecida, aponta o FT.
Na semana passada, Meloni tomou a medida sem precedentes de acusar Bruxelas de ser vítima de “notícias falsas” propagadas por “profissionais de desinformação e mistificação” depois que a comissão emitiu um relatório destacando questões de liberdade de imprensa na Itália.
Os comentários duros da líder italiana ocorreram semanas depois que ela se absteve de apoiar a nomeação de von der Leyen para outro mandato. Meloni então instruiu os membros do seu partido Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália) a votarem contra a confirmação de von der Leyen no Parlamento Europeu.
Analistas ouvidos pelo FT dizem que os dois incidentes anunciam um período de maior volatilidade entre Roma e Bruxelas. Lucio Malan, senador do partido de Meloni, disse que espera que as relações entre Roma e Bruxelas permaneçam equilibradas, apesar das inevitáveis diferenças políticas.
“O governo italiano, pela voz de Giorgia Meloni, será consistente com o que fizemos nos últimos dois anos, que é declarar os nossos pontos num espírito de colaboração com a UE.”
Meloni minimizou a discussão sobre a liberdade de imprensa, afirmando no início da semana que não via “nenhuma repercussão negativa para a Itália”, sustentando que as suas relações com a comissão não estavam a piorar, mas observadores afirmam que a sua escolha para o comissário da UE servirá como termómetro desta relação.