Depois de o M23 ter tomado o controlo, no começo da semana, de Minova, nó comercial que abastece Goma, situado a 50 quilómetros da capital regional -uma informação confirmada na Terça-feira pelo próprio exército congolês- a imprensa local dá conta de combates em diversas frentes nessa Quinta-feira, nomeadamente em torno de Saké, localidade da zona de Masisi, a cerca de 20 quilómetros de Goma.
Nestas últimas semanas, apesar do processo de paz mediado por Luanda, intensificaram-se os confrontos entre as tropas congolesas e o M23 a tal ponto que aumentou, substancialmente, o afluxo de feridos nos hospitais e uma nova onda maciça de 237 mil deslocados desde o começo deste mês, de acordo com a ONU.
A fragilidade das forças congolesas que se têm ilustrado na região sobretudo pelas violências e pilhagens, a ineficácia das tropas da SADC no terreno, somadas ao apoio cada vez mais patente que segundo a ONU o Ruanda fornece ao M23, seriam factores determinantes para a evolução rápida da situação.
De acordo com um relatório divulgado, em Julho, pelas Nações Unidas, 3 mil a 4 mil soldados ruandeses estão a lutar ao lado do M23, tendo inclusivamente tomado “de facto” o controlo das operações dos rebeldes. Uma situação nunca explicitamente reconhecida por Kigali.
Presente há quase dois anos sobre as colinas em torno de Goma, os rebeldes poderiam decidir a qualquer momento lançar uma ofensiva contra a capital regional, peritos acreditando que as tropas congolesas não têm condições de resistir.
Observadores acreditam, igualmente, que a mudança radical de prisma sobre as relações internacionais induzida pelo regresso de Donald Trump à Casa Branca, também é um factor para Kigali assumir cada vez mais abertamente as suas pretensões territoriais.
Numa conferência de imprensa realizada no passado dia 9 de Janeiro, ao comentar a mudança de liderança nos Estados Unidos, o Presidente ruandês Paul Kagame mostrou-se seguro de que “muitas coisas, mesmo no plano geopolítico, vão mudar” e que “isso também vai dizer respeito à forma como os assuntos africanos, e em particular os relacionados com o Leste da RDC, serão tratados”.
Rico em minérios como o cobre e o cobalto, com forte potencial hidroelétrico, terras aráveis importantes, uma enorme biodiversidade e a segunda maior floresta tropical do mundo, o Leste da RDC tem sido palco de conflitos constantes há mais de 30 anos.