A ameaça de veto da Argentina ao comunicado do G20 chama a atenção para o facto de os conservadores poderem acabar por serem encorajados pela postura do novo governo Trump a abandonar acordos globais sobre clima.
O presidente da Argentina, Javier Milei, aliado e admirador do recém-reeleito presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou bloquear um comunicado conjunto que será endossado pelos líderes do G20 na reunião do Rio de Janeiro que começa hoje, segundo fontes diplomáticas ouvidas pelo Financial Times (FT).
Na crítica de Milei estavam objecções relacionadas à tributação dos super-ricos e à igualdade de género, pautas caras aos movimentos conservadores ao redor do mundo. De acordo com a apuração, os diplomatas vêm trabalhando para encontrar consenso nesses temas e as negociações para o fecho do comunicado se desenrolaram até a manhã de ontem (17).
Um dos pontos centrais de debate ainda permanece sendo quanto os países em desenvolvimento têm de contribuir para a economia global no sentido do combate às mudanças climáticas.
A ameaça de um veto de Milei aumentou as preocupações de muitos diplomatas, que pensam que o retorno de Trump à Casa Branca possa significar uma espécie de chamamento a um conjunto de comportamentos de base conservadora que possam acabar por acarretar no retrocesso de uma série de pautas, especialmente na área do clima e de costumes.
Segundo revelou uma autoridade brasileira à apuração, o governo argentino está a testar as forças antigas e novas através do G20 no Brasil. “Após um ano de negociações sobre tributação e consenso, eles estão a criar problemas em coisas que aceitaram antes, palavra por palavra”, revelou a fonte.
A postura assumida pela equipa de Buenos Aires acontece logo após ao encontro do presidente argentino com o futuro homólogo norte-americano na última Quintafeira (14), o primeiro encontro de Trump com um líder estrangeiro após ter saído vitorioso no pleito.
Não obstante, a Argentina retirouse das negociações na COP29 após contacto com Trump. A reeleição de Trump tem levantado múltiplas questões geopolíticas relevantes, como o futuro dos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, a região da Ásia-Pacífico e o comércio mundial, mas para muitos analistas as suas declarações públicas associadas à vitória do seu projecto político soaram como um “apito de cachorro” para a coordenação conservadora de direita ao redor do mundo.
“Então, todo esse trabalho que fizemos com os EUA [sob Biden] — o que faremos com ele agora?”, disse um diplomata sénior europeu sob condições de anonimato ao FT. “Perdemos a iniciativa. […] Biden sempre tentou nos consultar o máximo possível, Trump seguirá o seu próprio caminho”, concluiu.