O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apelou, ontem, para que a Rússia não seja marginalizada nas conversações para reavivar o acordo sobre as exportações de cereais ucranianos através do Mar Negro
“Nenhum processo que marginalize a Rússia na iniciativa dos cereais do Mar Negro será viável”, disse Erdogan aos jornalistas após o encerramento da cimeira do G20, em Nova Deli, segundo a agência francesa AFP.
Erdogan anunciou uma próxima reunião sobre a questão com representantes russos, ucranianos e da ONU, sem especificar uma data ou local.
“Somos de opinião que qualquer medida susceptível de perturbar a paz no Mar Negro e agravar as tensões na região deve ser evitada”, acrescentou o líder turco.
Erdogan deslocou-se à cidade russa de Sochi, na Segunda-feira, para conversações com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, mas o encontro não permitiu desbloquear o impasse sobre os cereais. Negociado sob a égide de Ancara e da ONU no verão de 2022, o acordo visa garantir as exportações de cereais de Kiev através dos portos ucranianos no Mar Negro.
Em Julho, a Rússia retirou-se do acordo, alegando que o acesso ao mercado internacional para os seus próprios produtos agrícolas e fertilizantes estava a ser dificultado pelas sanções ocidentais por ter invadido a Ucrânia.
Desde então, Moscovo ameaçou atacar no Mar Negro os navios que zarpem de portos ucranianos.
A Ucrânia está agora dependente de rotas terrestres e de portos fluviais, também atacados por Moscovo, o que limita consideravelmente o volume de exportações.
Desde que abandonou o acordo, a Rússia atacou infra-estruturas de cereais ucranianas, o que lhe valeram acusações da Ucrânia e do Ocidente de agravar a insegurança alimentar no mundo.
O acordo é considerado crucial para o abastecimento e a segurança alimentar mundial.
Antes da guerra, a Ucrânia e a Rússia forneciam, em conjunto, 28% do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol, segundo a revista britânica The Economist.
Num ano, a iniciativa do Mar Negro permitiu a saída de cerca de 33 milhões de toneladas de cereais e outros produtos alimentares de três portos ucranianos para 45 países, de acordo com a ONU.
A guerra desencadeada pela invasão russa da Ucrânia, em 24 de Fevereiro de 2022, afectou seriamente a exportação de cereais ucranianos, que ficaram retidos nos portos do Mar Negro bloqueados pelas forças russas.
O bloqueio originou uma subida generalizada de preços e fez recear uma crise alimentar global.
Os aliados de Kiev decretaram sanções contra a Rússia que visam também tentar diminuir a capacidade de Moscovo para financiar o esforço de guerra na Ucrânia.